Léxico e cognição: as representações de mundo por meio de designações infantis

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Esta Dissertação situa-se na linha de pesquisa História e Descrição da Língua Portuguesa, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e tematiza os processos de construção de sentidos, atribuídos a determinadas unidades lexicais, por crianças na faixa etária dos 3 aos 9 anos. Fundamentada pelos princípios e pressupostos da Lexicologia, bem como da Lingüística Textual de vertente cognitivo-sócio-interacional, tem-se por objetivo principal examinar, por meio de designações infantis, as estratégias cognitivas elaboradas por essas crianças em situações de eventos discursivos particulares. Justifica-se a pesquisa por três grandes motivos: a) há poucos trabalhados destinados ao estudo dos processos de construção de sentidos lexicais pela criança; b) a Lexicologia ainda não formulou procedimentos teóricoanalíticos para o tratamento do vocabulário infantil; c) divulga-se muito a importância da ativação de conhecimentos prévios nos movimentos de produção textual seja oral ou escrito por meio de procedimentos inferenciais, mas não se tem apontado como esses conhecimentos são mobilizados-desmobilizados-remobilizados, de modo a facultar a compreensão dos modelos de representação na memória humana. Tais lacunas impedem que se reconheça a extensividade dos modelos de ordenação e de organização que orientam as atividades de fala. Nesse sentido, concebendo-se a palavra como um sinal por meio do qual o Homem representa seus conhecimentos de mundo, apresentou-se uma reflexão crítica que buscasse estabelecer uma relação entre pensamento, linguagem, língua e fala; socialização e sociabilização; imitação como cópia e como mimese; definição e designação, entre outros aspectos. O procedimento metodológico implicou a seleção e análise de um corpus extraído da obra Dicionário de Humor Infantil, de Pedro Bloch (1998). A heterogeneidade de designações registradas pelo autor, bem como a complexidade de seus conteúdos, exigiram do pesquisador um procedimento de análise e síntese por meio de três movimentos complementares: a) um primeiro que buscasse situar as designações nas categorias de língua; b) um segundo que ampliasse o movimento anterior, optando-se por um procedimento de caráter semântico; c) um último que focalizasse as representações mentais por meio das categorias cognitivas Projeção, Identificação e Transferência: aquelas que asseguram, por princípios analógicos, identificar o não familiar pelo familiar. Os resultados obtidos indicaram que, do ponto de vista das estruturas léxico-gramaticais, as designações infantis assemelham-se àquelas registradas sob a forma de definições lexicográficas, mas se diferenciam destas quanto às suas formas de representação: o dicionário de língua, definindo vocábulos de acordo com os sentidos sócio-culturalmente institucionalizados e, a criança, designando o mundo de acordo com os conhecimentos construídos a partir de suas experiências e vivências cotidianas. Tais resultados apontam para um marco de cognições sociais em fase de construção e para categorias culturais de ordenação de conhecimentos de mundo com alto grau de flexibilidade e em processo de expansão, devido ao baixo grau de socialização e alto grau de sociabilização, inscritos nos registros verbais das atividades de fala da criança

ASSUNTO(S)

linguistica cognição analogia lexical analogy lingua portuguesa -- lexicologia léxico cognition lingua portuguesa

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