Itinerário educacional de uma aluna cega e a busca pela imagem adaptada

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O escopo deste trabalho orienta uma investigação em busca de como a pessoa cega apreende saberes escolares mediados pela imagem em um contexto de educação inclusiva e como pode ser (ou é) desencadeada a adaptação das imagens para a apreensão tátil da pessoa cega e seu correlato processo de leitura. Para a obtenção deste intento avocamos uma abordagem qualitativa de pesquisa e optamos pela modalidade de estudo de caso, tomando como campo empírico uma escola pública da cidade de Cruzeta/RN e como sujeito principal uma aluna cega congênita ali matriculada no Ensino Médio, enfocando, amiúde, a disciplina de geografia em sua expressão cartográfica. Nossos procedimentos de construção de dados transitam pela análise documental, a entrevista reflexiva aberta e a observação. O embasamento teórico norteador de nossas apreciações localiza-se no entendimento atual acerca do desenvolvimento psicológico humano, do seu processo educacional, numa perspectiva inclusiva, e ainda, das concepções contemporâneas acerca da deficiência visual e da imagem como produto cultural. Nessa perspectiva, a pessoa humana é sujeito concreto, cujo desenvolvimento é profundamente marcado pela cultura, historicamente construída pela sociedade humana. Esse sujeito, independentemente de suas especificidades, apreende o mundo, interativa e mediatamente, internalizando e produzindo cultura. Nesse pensar, entendemos que a pessoa cega percebe multissensorialmente os estímulos de sua ambiência e age no mundo na direção de sua inserção no meio social. A imagem, como um produto da cultura, histórica e socialmente determinada, desponta como um signo convencionalmente icônico que em si mesma concentra conhecimento, do qual não pode ser alijado o aluno que não percebe visualmente a si e seu entorno. Nessa direção, o processo educacional inclusivo deve construir as condições de acesso ao conhecimento por parte de todos os alunos, indistintamente; inclusive o acesso à interpretação das imagens inicialmente destinadas à apreensão estritamente visual a outros modelos perceptivos. Firmados nessa fundamentação e adotando princípios da análise de conteúdo, decorremos à interpretação dos dados construídos a partir da análise dos documentos, dos discursos dos sujeitos, dos registros de observação realizadas na sala de aula e demais anotações no diário de campo. A busca pelas imagens nos conteúdos escolares, adaptadas para a apreensão tátil da aluna cega, que verificamos escassas e assistemáticas na prática pedagógica da escola, descobriu-nos o itinerário de vida da aluna marcado por uma sucessão de apoios, a maior parte das vezes, inadequados, deflagradores do arrefecimento da construção de sua autonomia. Revelou-nos também as tensões e contradições de uma ambiência escolar pretensamente inclusiva que tropeça, em busca de seu intento, nas barreiras atitudinais interpostas e cumulativas, em virtude de sua agravante manutenção. Essas constatações insurgiram do entrecruzamento dos dados em volta de uma categorização que releva 1) Concepções relativas à inclusão escolar, 2) Elementos da organização escolar, proposta pedagógica e prática docente, 3) Significação da imagem visual como objeto do conhecimento, 4) Percepção multissensorial, e 5) Desenvolvimento e aprendizagem da pessoa cega ante às injunções do meio social. Em face dessas constatações inferimos que deve ser garantida à pessoa com deficiência a remoção das barreiras atitudinais que se interpõem a seu pleno desenvolvimento, à construção de sua autonomia. Nesse sentido, deve-se oportunizar ao aluno com deficiência visual, semelhantemente a quaisquer alunos, não apenas o acesso ao espaço escolar, mas à dinâmica da vida escolar eficaz, que subtende a apreensão do conhecimento em todas as suas modalidades, inclusive a imagética. Para tanto, urge a formação continuada dos professores, a construção de uma rede de apoio em atendimento a todas as necessidades dos alunos, a oportunização do desenvolvimento de habilidades de leitura para além de uma perspectiva eminentemente visuocêntrica

ASSUNTO(S)

inclusão escolar visual disability imagem adaptada deficiência visual educacao especial school inclusion adapted image

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