Infância e figuras de autoridade

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta dissertação tem como tema central as figuras de autoridade segundo o olhar infantil. O objeto de pesquisa constitui-se a partir da pergunta “Quais as figuras de autoridade para as crianças nas relações de poder que permeiam o ambiente escolar e familiar?”. O referencial teórico principal abarca os conceitos de autoridade, de Hannah Arendt, e de relações de poder, de Michel Foucault, estabelecendo um diálogo com os campos da filosofia, história e da psicanálise. Como metodologia de pesquisa foram realizadas entrevistas abertas com crianças de seis a onze anos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp/UFRGS). Para suscitar o diálogo, foram utilizados três filmes de animação e tiras de histórias em quadrinhos. No total, foram realizadas vinte intervenções, das quais participaram setenta e seis crianças, divididas em cinco grupos. Levou-se em consideração os discursos acerca da crise na educação e de autoridade que se multiplicam em diferentes meios e se fazem presentes em nossa sociedade. O trabalho abrange ainda uma breve definição dos conceitos de infância, imagem e representação; e a ligação do conceito de autoridade com a tradição e a transmissão. Podemos concluir, a partir do referencial teórico utilizado e das análises das falas dos entrevistados, que as crianças percebem e distinguem figuras de autoridade em sua vida cotidiana; observamos, porém, que tais figuras têm se construído discursivamente de modos mais sutis em relação às formas de autoridade experimentadas pelas gerações anteriores às de nosso tempo. Observamos também o quanto as crianças assumem estratégias de resistência nas relações entre pais e filhos, o que faz supor que também o poder dos pais e conseqüentemente dos professores se mantém, mas de formas menos visíveis e num campo de disputa e negociações muito intenso com os filhos e alunos. Supomos que entre os fatores que têm participado de tais modificações, nos âmbitos familiar e escolar, estejam as variadas formas de socialização a que as crianças estão sujeitas atualmente, bem como a fragilidade dos modos de transmissão entre as gerações, que tem reforçado para as crianças a autoridade parental como algo negativo e complexo. Ainda assim, a distinção entre as idades infantil e adulta aparece de forma bem delimitada para as crianças entrevistadas. Salientamos a forte ligação das figuras de autoridade com as funções de cuidado, proteção e sustento (no caso da mãe, do pai e das avós) e de cuidado, organização e disciplinamento (no caso das professoras e do diretor); não havendo ligações explícitas formuladas em torno do saber que estas figuras poderiam deter e da relação deste com a autoridade por eles exercida. Concluímos que as figuras de autoridade fixas e estavelmente legitimadas de outras décadas apresentam-se sob novas configurações e estabelecem-se por movimentos transitórios, passíveis de mudanças.

ASSUNTO(S)

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