Incidência e fatores de risco para recidiva no sistema nervoso central em crianças e adolescentes com leucemia linfóide aguda: um estudo retrospectivo (março/2001 a agosto/2009) no Serviço de Hematologia do Hospital das Clínicas da UFMG

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

OBJETIVOS: Caracterizar o tipo de infiltração liquórica e a evolução de crianças com leucemia linfóide aguda (LLA) diagnosticadas no Serviço de Hematologia do Hospital das Clínicas da UFMG. Classificar as crianças com LLA de acordo com o grau de infiltração em Sistema Nervoso Central (SNC) e de acordo com a ocorrência, ou não, de sangramento traumático durante a punção liquórica (PL). Avaliar a incidência e identificar os fatores de risco para o acometimento do SNC ao diagnóstico e às recidivas. PACIENTES E MÉTODOS: Foram estudados, retrospectivamente, os pacientes com idade inferior a 18 anos, diagnosticados com LLA no período de março de 2001 a agosto de 2009, submetidos ao protocolo de tratamento do Grupo Cooperativo Brasileiro para Tratamento da Leucemia Infantil GBTLI LLA-99. Os dados clínicos e laboratoriais foram coletados por meio da revisão dos prontuários. RESULTADOS: A população estudada consistiu de 199 pacientes. O tempo de seguimento variou de dois dias a 8,7 anos (mediana de 3,3 anos). Da população estudada, 57% são meninos (114/199). A idade ao diagnóstico variou de dois meses a 16,8 anos (mediana de 5,59 anos). Os dados sobre os resultados do primeiro LCR foram encontrados em 194 pacientes. A distribuição dos pacientes conforme a classificação do LCR ao diagnóstico foi: SNC1 (punção lombar (PL) não traumática, ausência de blastos) - 61%, SNC2 (PL não traumática, contagem de leucócitos inferior a 5/µl, presença de blastos) - 1%, SNC3 (PL não traumática, contagem de leucócitos superior ou igual a 5/µl, presença de blastos) - 0, PLT negativa (PL traumática, ausência de blastos) - 37% e PLT positiva (PL traumática, presença de blastos) - 1%. Em 155 pacientes foram coletados dados sobre o local onde a primeira punção foi realizada. O procedimento foi realizado na enfermaria, sem sedação, em 43% dos pacientes (67/155) e, no bloco cirúrgico, sob sedação profunda, em 57% (88/155). Foi avaliada a possível associação entre punção lombar traumática e as seguintes variáveis: idade, contagem de leucócitos ao diagnóstico, local onde o procedimento foi realizado, e contagem de plaquetas prévia ao procedimento. Foi observada associação significativa apenas entre idade e PL traumática. A mediana de idade foi de 3,3 anos para os pacientes que apresentaram punção traumática e de 6,1 anos, para aqueles que não a apresentaram (p=0,0004). A probabilidade estimada de Sobrevida Global aos 5 anos para todo o grupo foi de 69,5% (±3,6%). A probabilidade estimada de Sobrevida Livre de Eventos aos 5 anos para todo o grupo foi de 58,8% (±4,0%), sendo 76,2% (±5,4%) e 46,6% (±5,3%) para os grupos de baixo e alto risco para recaída, respectivamente (p=0,00002). A recidiva em SNC ocorreu em 18 (9%) dos 199 pacientes, em 11 dos quais de forma isolada. A incidência acumulada de recidiva em SNC (isolada ou combinada) para todo o grupo foi 10,9% em 8 anos. A incidência acumulada de recidiva em SNC foi avaliada de acordo com o imunofenótipo ao diagnóstico (B versus T), a contagem de leucócitos ao diagnóstico, o intervalo entre o diagnóstico da LLA e a primeira PL, e a presença ou não de trauma na primeira PL. A comparação entre as crianças com leucometria ao diagnóstico acima ou abaixo de 50.000/mm3 revelou uma diferença muito acentuada, sendo a incidência acumulada bem mais elevada nas crianças com hiperleucocitose. As outras comparações não mostraram diferença na incidência de recidiva em SNC entre os grupos. CONCLUSÕES: A incidência acumulada de recidiva no SNC (isolada ou combinada) no presente estudo foi superior à observada em estudos internacionais. A SLE aos cinco anos foi inferior aos resultados relatados na literatura. Leucometria inicial superior ou igual a 50.000/mm³, classificação em grupo de alto risco para recidiva, e atraso na realização da primeira punção lombar (acima de sete dias) foram fatores de mau prognóstico em relação à SLE. Foi observada, também, alta incidência de punção lombar traumática ao diagnóstico, sendo a idade o único fator associado com trauma na punção. A contagem de leucócitos ao diagnóstico acima de 50.000/mm³ foi o único fator associado a uma maior incidência de recidiva em SNC.

ASSUNTO(S)

infiltração leucêmica decs leucemia-linfoma linfoblástico de células precursoras/terapia decs líquido cefalorraquidiano decs fatores de risco decs dissertações acadêmicas decs leucemia-linfoma linfoblástico de células precursoras decs criança decs leucemia-linfoma linfoblástico de células precursoras/diagnóstico decs recidiva local de neoplasia decs estudos retrospectivos decs adolescente decs

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