Hospital humano : etnoavaliação centrada no usuário-cidadão

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Apesar da universalização do acesso, reorientação do modelo de atenção, reorganização dos serviços hospitalares, criação de ouvidorias, incremento de programas de qualidade, desenvolvimento do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) e da Política Nacional de Humanização (PNH: HumanizaSUS), persistem lacunas críticas para o alcance de uma atenção integral, resolutiva e humanizada. Existe uma desvalorização dos sentidos, significados e experiência vivida do usuário durante a hospitalização. Além desses aspectos subjetivos, há outro problema, as Escalas de Satisfação do Usuário, são predominantemente quantitativas, restritas à identificação de itens específicos definidos a priori e, na sua maioria, referentes à estrutura física do hospital. Nesse contexto, o presente estudo pretende compreender a humanização hospitalar por meio da etnoavaliação do cuidado na perspectiva de usuários-cidadãos em um hospital geral público em Fortaleza, Ceará, no Nordeste brasileiro. Adotamos como referencial teórico a Antropologia Interpretativa (Geertz, 1989) e utilizamos os conceitos e formulações da Antropologia Médica (Kleinman, 1980; 1988), a fim de captar e explicitar por meio da Etnografia, os sentidos das experiências de hospitalização vividos pelos sujeitos. A amostra do estudo consistiu de 13 (treze) usuários adultos sendo atendidos nas diversas clínicas. Uma metodologia inovadora, o Percurso do Usuário, foi criada e utilizada para acompanhar os participantes durante toda a sua internação. De janeiro a julho de 2005 os dados foram levantados usando três técnicas: a revisão documental, a observação participante e a entrevista etnográfica profunda incluindo a eliciação de narrativas. A técnica de triangulação foi adotada para organizar os dados de maneira complementar e articulada. A Análise de Conteúdo Temática (Bardin, 1977), os Modelos Explicativos dos Pacientes (Kleinman, 1988) e a adaptação do Modelo de Signos, Significados e Ações (Corin et al., 1977) foram empregadas para analisar os achados. Os dados foram interpretados à luz dos referenciais teóricos da Antropologia Médica, humanização do cuidado e promoção da saúde, especificamente, o empoderamento do usuário. Foram observados os princípios éticos da Resolução 196/96 (BRASIL, 1996). Os nomes dos sujeitos foram preservados, tendo sido expressos por cognomes. Os resultados revelam que o referencial de cuidado humanizado para o usuário é ligado às concepções populares da casa. Os usuários são impregnados com estigmas sociais que mancham suas identidades e prejudica os cuidados subseqüentes. O hospital é percebido como uma prisão que confina e restringe as escolhas pessoais e a liberdade. Experiências e papéis vividos durante a hospitalização provocam uma grande variedade de emoções e reações. Estratégias populares para superar cuidados desumanizados são criadas por usuários, cuidadores e familiares para tolerar os momentos e eventos difíceis. Usuários observam e criticam múltiplos aspectos de sua experiência de hospitalização: estrutura física, funcionamento e. imagem do hospital, gerenciamento dos serviços, relação médico-paciente e características/ qualidades de um profissional de saúde humanizado. Essa Etnoavaliação é baseada em racionalidades leigas que empregam seus próprios critérios e lógica, similar ao raciocínio Epidemiológico. O julgamento dos usuários sobre os cuidados hospitalares como sendo humanizados ou desumanizados depende de uma variedade de fatores mediadores. Para humanizar a hospitalização pública no Nordeste brasileiro, é necessário adotar uma Etnoavaliação que além de empoderar o usuário e valorizar a opinião e julgamento leigo, pode melhorar a qualidade dos cuidados em saúde.

ASSUNTO(S)

saude coletiva antropologia mÉdica - dissertaÇÕes saÚde pÚblica - dissertaÇÕes assistÊncia hospitalar - dissertaÇÕes

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