Gradientes alofônicos de oclusivas alveolares do português brasileiro em uma situação de contato dialetal / Alveolar stops allophonic gradients of a dialect in contact

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

08/07/2011

RESUMO

Esta pesquisa descreve aspectos gradientes de uma alofonia do português brasileiro (PB); trata-se da palatalização das oclusivas alveolares /t/ e /d/, que diante de /i/ passam a ser produzida preferencialmente como /t/ e /d/. As chamadas africadas ocorrem categoricamente em certos dialetos do PB, mas em outros estão em processo de implementação, já que são tidas como uma variedade de prestígio. São consideradas sons que apresentam certa instabilidade em suas fronteiras, além de uma estrutura temporal complexa. Sendo assim, a meta é descrever as nuances dos processos fonéticos das africadas em um grupo de falantes de Jundiaí-SP que passa pelo processo da variação, pelo fato de viajarem, diariamente, para Campinas-SP. Segundo estudos de Leite (2004, 2010), o falar da população de Campinas é considerado menos estigmatizado, e mais "intermediário" em relação ao dialeto da capital do que o modo de falar apresentado na maioria das cidades do interior de São Paulo. A partir da análise da fala de cinco estudantes do sexo masculino, verificou-se que a variação não é categórica ou irreversível, apresentando aspectos gradientes. As gravações foram feitas a partir da leitura, em diferentes taxas de elocução, de um conjunto de textos com palavras que apresentavam as oclusivas alveolares diante da vogal anterior. Além disso, também foram gravadas amostras de palavras em uma tarefa de repetição, em que controlamos as seguintes variáveis: freqüência de ocorrência na língua e posição silábica da consoante estudada. Para a análise, foram computadas as medidas de momentos espectrais (Forrest et. al. 1988). A partir da comparação dos momentos espectrais das africadas com os momentos espectrais de um conjunto de fricativas alveolares e pós-alveolares dos próprios sujeitos, estabeleceu-se, em um estudo transversal, o local de articulação das primeiras e a instabilidade das produções do grupo dos cinco sujeitos. A metodologia estatística utilizada foi a Análise de Variância (ANOVA) para medidas repetidas, seguida do teste post-hoc de Tukey, para discriminação das diferenças de local. Pelas análises estatísticas do conjunto de dados, pôde-se observar como cada parâmetro espectral se comporta e, assim, entender a mudança de lugar de articulação. Realizou-se também uma análise longitudinal com dois dos sujeitos, ao longo de um ano. Neste caso, a estatística descritiva de três coletas de dados mostrou que os dois sujeitos observados podem estar em estágios diferentes da implantação e que as estratégias de "reparar" a própria fala podem ser mais ou menos consistentes. Também foi possível verificar, pela análise da mudança de taxa de elocução, que, num caso, há mais controle do uso da variável inovadora na leitura normal do que na rápida. Para complementar as análises fonéticas, também foram feitas entrevistas com os sujeitos, a fim de verificar suas atitudes em relação ao próprio dialeto. Os resultados que investigaram a frequência de ocorrência não foram significativos e aqueles que investigaram posição tônica mostraram apenas alguns resultados com significância estatística. A Fonologia Gestual (Browman e Goldstein, 1992, 1995; Goldstein e Fowler, 2003) mostra-se adequada à descrição e ao modelamento de processos gradientes como este, porque suas postulações teóricas dão especial importância à dinâmica dos processos fonológicos. Além disso, incorporam com sucesso os fatores tempo e magnitude, diretamente relacionados à idéia de movimento dos articuladores.

ASSUNTO(S)

alofonia (fonologia) africadas (fonética) fonética fonologia gestual variação (linguistica) allophonic gradients affricates phonetics gestural phonology linguistic variation

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