Genética, ecologia e evolução de drosofilídeos (Insecta, Diptera) associados a flores

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A presente tese trata de espécies de drosofilídeos (Insecta, Diptera, Drosophilidae) associadas a flores, baseando-se em uma multiabordagem com informações morfológicas, ecológicas, biogeográficas, comportamentais e moleculares sobre estes organismos. Um inventário da biodiversidade de drosofilídeos associados a flores foi realizado em várias localidades do Brasil, com um amplo esforço amostral, que compreendeu amostras de flores de 125 espécies de plantas, de 47 famílias. Deste total, 56 espécies de plantas, de 18 famílias, se mostraram hospedeiras de drosofilídeos, revelando uma fauna ainda grandemente desconhecida. Das 28 espécies encontradas, 12 foram consideradas de ecologia restrita a flores, seis de biologia incerta e 10 como oportunistas. Cerca de 40% (12 espécies) da diversidade encontrada constituiu-se de espécies não descritas. Esta proporção sobe para 2/3 ao se excluir as espécies oportunistas. Entre as oportunistas foram encontradas nove espécies de Drosophila Fallén, 1823 e uma de Zaprionus Coquillett, 1901. Entre as de biologia incerta estão duas espécies de Cladochaeta Coquillett, 1900, uma de Rhinoleucophenga Hendel, 1917 e três de Scaptomyza Hardy, 1849. Já em relação às espécies de ecologia restrita a flores, estiveram representadas oito espécies do grupo bromeliae de Drosophila, duas espécies do subgênero Phloridosa Sturtevant, 1942, também de Drosophila, e duas espécies de Zygothrica Wiedemann, 1830. Uma lista completa das localidades onde foram encontradas cada uma das espécies é fornecida, incluindo vários novos registros. Também são listadas as plantas hospedeiras de cada espécie. Quatro espécies novas de Drosophilidae são formalmente descritas: Rhinoleucophenga joaquina sp. nov., Drosophila anaeterrae sp. nov., D. solani sp. nov. e D. jurubeba sp. nov. Adicionalmente, complementos de descrição nos moldes modernos são fornecidos para D. bromeliae Sturtevant, 1921 e D. bromelioides Pavan & Cunha, 1947. O grupo bromeliae de Drosophila foi o táxon mais representativo, tanto em número de espécies como em número de indivíduos. Oito espécies foram encontradas, seis das quais originalmente não descritas. Graus variados de amplitude de nicho foram observados, com espécies polífagas (D. bromelioides e D. bromeliae), oligófagas (D. anaeterrae sp. nov. e tipo III') e monófagas (D. solani sp. nov., D. jurubeba sp. nov., tipo IV' e tipo VI). As espécies monófagas apresentaram ecologia especializada em flores de Solanum. Estas diferenças ecológicas estiveram associadas a diferenças morfológicas, sendo observado um aumento de tamanho do ovipositor e uma redução (ou modificação) dos filamentos respiratórios dos ovos com o aumento do grau de especialização. As espécies deste grupo também puderam ser divididas em dois grupos geográficos: espécies de distribuição predominantemente meridional (D. bromelioides, D. anaeterrae sp. nov., D. solani sp. nov. e D. jurubeba sp. nov.) e espécies de distribuição predominantemente setentrional (D. bromeliae, tipo III', tipo IV' e tipo VI). Experimentos de cruzamento com três espécies do grupo (D. bromeliae, D. bromelioides e D. anaeterrae sp. nov.) demonstraram que estas apresentam isolamento reprodutivo completo e diferenças marcantes no padrão de som de corte do macho, fator que pode estar funcionando como mantenedor do isolamento pré-zigótico entre elas. Análises de barcode baseadas em seqüências de COI se mostraram bastante eficientes na correta discriminação de sete espécies do grupo bromeliae e duas espécies do subgênero Phloridosa (D. denieri Blanchard, 1938 e D. lutzii Sturtevant, 1916). Esta abordagem, portanto, fornece uma importante ferramenta para a identificação destas espécies, em especial de fêmeas, já que neste caso a diferenciação por morfologia se torna difícil. Análises filogenéticas realizadas com dados moleculares, obtidos para estas espécies pela primeira vez nesta tese, a partir de seqüências dos genes mitocondriais COI e COII, sugeriram que o subgênero Phloridosa tenha se originado na radiação immigrans-tripunctata do subgênero Drosophila Fallén, 1823, contrariando estudos anteriores baseados em caracteres morfológicos. Os resultados aqui obtidos, entretanto, encontram respaldo em uma reavaliação da morfologia destas espécies, baseada na terminália masculina. Por fim, análises filogenéticas com os mesmos marcadores para o grupo bromeliae sugerem a monofilia do grupo, sendo que as linhagens basais são representadas pelas espécies especialistas em Solanum, seguidas de um clado composto pelas espécies generalistas, onde as duas espécies polífagas formam as primeiras ramificações deste clado e as duas espécies oligófagas representam espécies-irmãs na extremidade terminal. A justaposição das relações filogenéticas das espécies deste grupo com as informações morfológicas e ecológicas sobre elas nos permitiram a formulação de um potencial cenário sobre a história evolutiva do grupo.

ASSUNTO(S)

drosophilidae diptera genética

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