Estudo de deficientes mentais sem sindrome de Down que manifestam sete ou mais sinais clinicos associados a aberrações cromossomicas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1988

RESUMO

No presente trabalho foi realizada a análise citogenética e o conjunto de testes para a detecção de erros metabólicos hereditários em 66 oligofrênicos que não manifestavam a síndrome de Down, a maioria dos quais com deficiência mental leve ou moderada (75,9%) e com pelo menos sete sinais clínicos comumente associados a aberrações cromossômicas, matriculados na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Araras,SP ou encaminhados ao ambulatórIo de Genética do Hospital de Clínicas da UNICAMP para elucidação diagnóstica. A proporção de pacientes com constituição cromossômica anômala foi alta (13,6%). Em 6 casos (9,1%), 2 eram portadores de cromossomos acessórios de origem não determinada e 4 apresentavam cromossomopatias estruturais, afetando os cromossomos 9, 15 e 18. Nos outros 3 casos (4,5%) foram diagnosticadas alterações dos cromossomos sexuais (45, X/46, X, i(Xq); 47,XXY; 48,XXXY). O sítio frágil do cromossomo X foi detectado em 3 (25%) dos 12 pacientes nos quais tal anomalia foi investigada (4,5% do total da amostra). Com relação à pesquisa dos erros inatos do metabolismo, apenas em relação a um caso (1,5%) tem-se a hipótese diagnóstica de mucopolissacaridose tipo VII, ainda não confirmada através de ensaio enzimático. Em outros 3 casos (3,0 %) foram feitos os diagnósticos das síndromes de Russel-Silver, Noooan e oro-facio-digital tipo III, respectivamente. Observou-se um predomínio de indivíduos do sexo masculino (razão de sexo=1,54) que, entretanto, não chegou a ser sIgnificativo, provavelmente devido ao tamanho amostral. Também não se observou diferença significativa com relação à distribuição dos pacientes segundo o QI (x2=2,06, 3g.I.;p - O,57) ou segundo a faixa etária (x2 =4,52; 4g.1. ;p-0,30). Contudo, foi observada uma correlação negativa significativa (r=-0,37) entre o QI e o número de sinais dismórficos. Além disso, o valor médio do QI entre os oligofrênicos portadores de anomalias cromossômicas e sítio frágil do cromossomo X (X=38,08; s(x)=17,97; n=12) é significativamente menor do que o obtido entre aqueles com cariótipo normal (X=51,04; s(x)=13,86; n=42) (t=2, 67:52g.1. :p-O,O5).A média do número de sinais dismórficos entre os deficientes mentais com aberrações cromossômicas e sítio frágil do cromossomo X (X=12,75:s(x)=3,57:n=12) não diferiu significativamente do valor obtido entre os pacientes com cariótipo normal. Além disso, a distribuição dos sinais dismórficos entre os indivíduos com ou sem anomalias do cariótipo, não mostrou desvios significativos. O interrogatório anamnéstico permitiu a constatação das seguintes condições associadas à deficiência mental baixo peso ao nascer (25%), prematuridade (11,5%), abortos ou natimortos (26,2%) cianose ao nascimento (28,8% de casos positivos e 37,9% de casos duvidosos), parto domiciliar (9,2%), recorrência familial de retardamento mental (53,3%). A idade materna média por ocasião do nascimento dos oIigofrênicos foi X=27,76; s(x)=7,22; n=63, não sendo observadas diferenças significativas quando tal variável era analisada de acordo com a presença ou a ausência de anomalias do cariótipo e o coeficiente médio de endocruzamento foi de 0,0028. A análise dos resultados permitiu as seguintes conclusões: 1. A etiologia genética da deficiência mental foi constatadas em 16 pacientes (24,2%), distribuídos da seguinte forma: aberrações cromossômicas (13,6%), sítio frágil do cromossomo X (4,5%), erros inatos do metabolismo (1,5%), síndromes monogênicas nas quais o efeito primário do gene é desconhecido (3,0%), quadro sindrômico de etiologia e aspectos genéticos não definidos (1,5%). 2. A frequência de sinais dismórficos detectados entre os oligofrênicos portadores de anomalias cromossômicas não difere significamente daquela apresentada pelos indivíduos com cariótipo normal. 3. O QI tende a diminuir à medida que aumenta o número de sinais dismórficos, o que está de acordo com a suposição de que, caso algum fator causal tenha atuado durante a embriogênese, afetando diversos campos de desenvolvimento e justificando uma exuberância nos referidos sinais, esse mesmo fator deve ter concorrido para afetar os mecanismos neurofisiológicos relacionados à determinação da inteligência. 4. A simples detecção de uma série de mal formações minor, não é suficiente, por vezes, para estabelecer um vínculo com algum fator etiológico específico. É preciso estabelecer a importância real dessas características através de uma análise formal baseada em critérios mais exatos e não subjetivos ou intuitivos. Desse modo, o número de sinais com real valor clínico pode até ser inferior a sete, mas também pode representar anomalias do desenvolvimento associadas a deficiência mental. Sendo assim, seria fundamental, para que possam ser obtidas inclusões definitivas, a aplicação da metodologia aqui utilizada também em amostras de oligofrênicos portadores de menos que sete sinais clínicos associados a aberrações cromossômicas e a comparação final dos resultados obtidos nas diferentes amostras. 5. A incidência dos casos de síndrome do cromossomo X frágil pode ser considerada elevada, o que fala a favor da necessidade de sua pesquisa sistemática nos estudos sobre o retardamento mental idiopático. 6. A presença de diversos fatores patogênicos do ambiente relaciona-se à ocorrência do retardamento mental na maior parte dos casos que constituiram a presente amostra, incluindo alguns portadores de anomalias dos cromossomos sexuais, as quais não costumam estar associadas a um comprometimento intelectual tão grave quanto o que foi constatado em tais pacientes. 7.O coeficiente de endocruzamento mais elevado do que o observado na população normal, reforça a hipótese formulada por Sena &Beiguelman (1985) de que entre os deficientes mentais portadores de sete ou mais sinais clínicoS associados a cromossomopatias, a etiologia genética da deficiência mental deve ter papel relevante. 8. A análise dos dados anamnésticos relacionados à de terminação da deficiência mental reforçam as constatações de outros autores de que grande parte dos fatores patogênicos do ambiente estão vinculados a condições sócio-econômicas e culturais desfavoráveis, as quais foram predominantes na amostra estudada. 9. Apenas em um caso foi feito o diagnóstico de um erro metabólico hereditário, o qual ainda não foi confirmado através de ensaio enzimático. Tal fato pode ser atribuído ao tamanho amostral insuficiente. Por outro lado, apesar de o conjunto de testes para a detectação de erros inatos do metabolismo representar um recurso diagnóstico de grande valia para a investigação inicial de tais entidades nosológicas, é fundamental a aquisição e a incorporação de outros exames tais como a cromatografia e a eletroforese, nas pesquisas sobre as etiologias da deficiência mental.

ASSUNTO(S)

anomalias deficientes mentais cromossomos - aberrações

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