Estratégias reprodutivas de espécies arbóreas e a sua importância para o manejo e conservação florestal: Floresta Nacional de Tapajós (Belterra-PA)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A floresta amazônica ocupa uma área de 4,9 milhões de km2, porém, nas últimas três décadas, 14% da sua cobertura florestal foi removida, principalmente devido à expansão das atividades madeireiras e da fronteira agrícola. A legislação florestal no Brasil tem apresentado avanços significativos, mas ainda é necessário implementar mudanças ao nível técnico e operacional. Para realizar o manejo florestal visando a sustentabilidade, é importante levar em conta as informações sobre a biologia reprodutiva, para preservar a reprodução e manutenção da diversidade genética das espécies arbóreas nas áreas manejadas. Esse estudo buscou informações sobre o processo reprodutivo de cinco espécies arbóreas com diferentes características ecológicas, no contexto da Exploração de Impacto Reduzido (EIR): Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don (Bignoniaceae), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae Papilionoidae), Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae), Symphonia globulifera L.f. (Clusiaceae) e Bagassa guianensis Aubl. (Moraceae). Os estudos de campo foram realizados numa área de floresta ombrófila densa da Floresta Nacional do Tapajós (PA) e em área de plantios em Belém (PA). Foram examinados aspectos básicos sobre a fenologia reprodutiva, biologia floral, sistema reprodutivo e agentes polinizadores. Além disso, investigou-se o efeito da EIR sobre o fluxo de pólen e a freqüência dos grupos de polinizadores. Essas investigações foram realizadas na FLONA do Tapajós, em duas situações de manejo: floresta não explorada (FNE) e floresta explorada (FE). Foi obtida a taxa de deposição de pólen (TDP = n total de pólen encontrados no estigma / pelo n total de estigmas analisados em cada espécie) e o percentual de fertilização dos pistilos (PFP = n de estigmas com tubos polínicos penetrando nos óvulos / n total de estigmas com presença de pólen na amostra de cada espécie). Os resultados foram comparados por meio da análise de variância ANOVA. Os polinizadores foram observados durante o período de maior florescimento de J. copaia, D. odorata e S. globulifera, em turnos de seis horas, com observação direta do seu comportamento e número de flores visitadas durante 15 minutos a cada hora. Foram considerados nove grupos de visitantes: a) Abelhas de pequeno a médio porte; b) Abelhas de grande porte; c) Vespídeos; d) Dípteros; e) Lepidópteros; f) Coleópteros; g) Passeriformes; h) Beija-flores; i) Outras aves. Foi verificado que três espécies (J. copaia, C. guianensis e B. guianensis) floresceram anualmente, enquanto D. odorata e S. globulifera tiveram florescimento sub-anual, com dois eventos reprodutivos ao ano. O período de maior percentual de florescimento ocorreu nos meses de menor precipitação pluviométrica (agosto a novembro). A época de maturação dos frutos ocorreu principalmente no período chuvoso (janeiro a maio). As características florais foram compatíveis com a lista de visitantes observados e coletados nas flores. J. copaia e D. odorata foram classificadas como melitófilas, uma vez que atraíram vasta diversidade de abelhas, (Centris, Euglossa, Eulaema e Epicharis, entre outros). D. odorata apresentou grande diversidade de polinizadores (abelhas, besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas). No caso de C. guianensis, as visitas de microlepdópteros e abelhas-sem-ferrão ocorreram indiscriminadamente, e a espécie foi considerada entomófila. S. globulifera foi a única espécie ornitófila, com visitas de representantes de cinco famílias de aves (Thraupidae, Trochilidae, Icteridae, Picidae, Ramphastidae e Psittacidae). Os Passeriformes foram considerados os principais polinizadores. Foram encontradas fortes evidências de polinização anemófila em B. guianensis, concordando a morfologia floral das flores e do pólen. Juntamente com o vento, discute-se a atuação de insetos da ordem Thysanoptera como co-polinizadores. As cinco espécies apresentaram barreiras a autofecundação. Foi observada a ocorrência de dois sistemas de auto-incompatibilidade distintos, Auto-incompatibilidade de Ação Tardia (LSI Late-acting Self-incompatibility) em J. copaia e D. odorata e, Auto-incompatibilidade Homomórfica Esporofítica (SSI Sporophitic Self-incompatibility) em C. guianensis. Houve diferenças na quantidade de pólen recebida nas flores dois ambientes da floresta (FNE e FE). Em D. odorata a TDP foi maior (F1, 11 = 4,96; p = 0,05) na floresta explorada, enquanto que para S. globulifera a TDP foi maior (F1,13 = 4,59; p = 0,05) na FNE. Para J. copaia, C. guianensis e B. guianensis não foi possível detectar diferença significativa entre a FNE e FE quanto à TDP. Com relação ao PFP, foi verificado que na FE, de uma maneira geral, houve um efeito negativo significativo da EIR no percentual de fertilização das espécies após a exploração da floresta (F1,4 = 5,74; p = 0,018). As flores de J. copaia e D. odorata receberam os mesmos visitantes, com variações em nível de espécies. S. globulifera foi visitada por três grupos de aves. As três espécies mostraram diferenças na composição dos grupos de visitantes florais entre as duas situações de manejo florestal, sendo que D. odorata apresentou a variação mais acentuada na composição dos grupos de polinizadores. As mudanças na freqüência e composição de polinizadores das espécies estudadas podem interferir na eficiência da polinização. A remoção de árvores diminuiu a densidade populacional das espécies e aumentou a distância média entre indivíduos reprodutivos, o que pode ter levado a mudanças na capacidade dos vetores de polinização realizar a transferência de pólen da mesma maneira que ocorria antes da exploração. A EIR interferiu na dinâmica da polinização, alterando a composição dos grupos de polinizadores e, conseqüentemente, a distribuição do pólen entre as árvores que permanecem na floresta após a exploração.

ASSUNTO(S)

floresta amazônica phenology amazon floral biology biologia vegetal pollination ecologia florestal - pará biologia floral ecologia sistema reprodutivo, fragmentação ecologia manejo florestal reproductive system polinização exploração de impacto reduzido fragmentation. low impact logging fenologia

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