Estado nutricional relativo ao ferro em lactentes com doença falciforme diagnosticoados pelo Programa Estadual de Triagem Neonatal de Minas Gerais

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A anemia ferropriva é a doença nutricional de maior prevalência no mundo. A anemia falciforme é a doença hereditária monogenética mais comum, caracterizada por defeito na molécula da hemoglobina. Como essa doença pode levar ao acúmulo de ferro no organismo, as crianças afetadas não teriam indicação do uso de profilaxia com ferro e estão excluídas do Programa de Prevenção à Anemia Ferropriva do Ministério da Saúde, embora não exista nenhum estudo que valide essa decisão. Objetivo: Estudar o metabolismo do ferro em lactentes (6 meses a 2 anos) com doença falciforme na tentativa de determinar a propriedade de sua exclusão dos programas de combate à ferropenia. Métodos: Estudo transversal, retrospectivo, envolvendo crianças com doença falciforme nascidas entre 2005 e 2006 e atendidas no Hemocentro de Belo Horizonte. Resultados: Participaram do estudo 135 crianças (66 meninos e 69 meninas), com perfil SS (77) e SC (58). A idade média da coleta de exames foi de 9,9 meses (5,7-25,2). Os valores médios dos exames laboratoriais foram: Hb 8,9 g/dL (4,3-12,5); leucócitos 14,4x10³ (6,7- 38,2); Plaquetas 433x10³ (135-1.362); reticulócitos 7,7% (0,6-28); Hb fetal 16,9% (1- 42); ferro 14 µg/dL (9-232); ferritina 64,6 ng/mL (4-462); IST 20,4% (2,4-44,1). 12,5% das crianças receberam transfusão previamente à coleta. Não houve diferença de peso, idade gestacional, gênero, níveis de hemoglobina total e fetal, leucócitos e plaquetas entre os pacientes que receberam, ou não, transfusão. Os reticulócitos foram mais altos no grupo transfundido (12,8 versus 4,0 ;p<0,001). Os possíveis indicadores de deficiência de ferro (VCM, HCM, ferro sérico, IST e ferritina) foram mais baixos no grupo não-transfundido (p<0,001). Quando analisadas apenas as crianças não-transfundidas (n = 118), não houve diferença quanto ao gênero, idade gestacional ou peso de nascimento entre as crianças SS e SC. As crianças SC, em relação às SS, apresentaram, como esperado, Hb total mais elevada, Hb fetal mais baixa e reticulócitos menos elevados (p<0,001). As médias do Fe sérico, ferritina e IST foram todas inferiores nas crianças SC (p<0,001). A avaliação de indicadores de possível ferropenia detectou VCM <70fL em 25,9% dos casos; HCM <23 em 40%; ferritina <10 em 11,9% e IST <12% em 14,8%. Houve predomínio de ferropenia nas crianças SC (p<0,001 para VCM e HCM, p=0,014 para IST e p=0,11 para ferritina). Quando considerados dois índices para a definição de ferropenia (VCM ou HCM + ferritina ou IST), 17,8% das crianças teriam deficiência de ferro, com predomínio do perfil SC (p=0,003). Analisando somente aquelas crianças que não receberam transfusão, 19,5% teriam deficiência. Apenas 15 crianças (11,3%) apresentaram ferritina aumentada (>142 ng/mL), a maioria associada a hemotransfusão. Conclusões: A maioria dos lactentes com doença falciforme não possui déficit de ferro, mas alguns têm déficit significativo. Excesso de ferro foi detectado em cerca de um décimo das crianças, principalmente nas que haviam sido transfundidas. O estudo indica que lactentes com doença falciforme, principalmente as SC, podem receber ferro profilático, suspendendo-se a medicação quando da primeira hemotransfusão.

ASSUNTO(S)

pediatria teses. estado nutricional decs dissertações acadêmicas decs ferro decs nutrição do lactente decs anemia falciforme decs dissertação da faculdade de medicina da ufmg.

Documentos Relacionados