Os significantes da escuta psicanalítica na clínica comtemporânea

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

O objetivo deste trabalho é circunscrever os destinos da escuta psicanalítica na clínica contemporânea. Ao dar ouvidos à histérica, Freud rompe com o modelo médico de tratamento e inaugura uma prática clínica diferenciada, na qual o paciente deixa de ser examinado e é convidado a narrar o seu sofrimento, passando a ser sujeito no seu processo de cura. Assim, a escuta psicanalítica abre novos horizontes para a compreensão do homem e do mundo em que vivemos. Entretanto, nos deparamos hoje com sintomas como síndrome do pânico, depressões, doenças psicossomáticas, compulsões, fracasso escolar, que diferem dos apresentados pelos pacientes de Freud. Então, passamos a questionar a nossa prática clínica: Como as mudanças sociais e culturais interferem na subjetividade? O que há de comum nas patologias contemporâneas? Quais as contribuições da psicanálise para compreendermos o mundo em que vivemos? Qual o destino da escuta psicanalítica diante de tantas transformações? A partir desses questionamentos analisamos como surgiu a escuta psicanalítica e em qual contexto social e cultural Freud estava inserido. Comparamos a era freudiana com a clínica contemporânea. Constatamos com Lipovetsky e Forbes que houve uma mudança da era industrializada que Forbes denomina "pai orientada" para a globalizada. Para Lipovetsky, o avanço da individualização e o declínio do poder organizador, que o coletivo tinha sobre o individual, fragilizaram as personalidades. O indivíduo contemporâneo é mais autônomo, pois tem maior liberdade de escolhas. Porém, acaba por se tornar mais frágil em função da quantidade de exigências e obrigações que o nosso mundo lhe impõe. De acordo com Costa, na modernidade, o homem buscava o ideal de perfeição através dos sentimentos. Atualmente, a nossa sociedade dá uma grande ênfase à imagem corporal. O homem busca uma imagem perfeita de si mesmo e padece de um fascínio pelas possibilidades de transformação física oferecida pelas próteses, cirurgias plásticas, medicamentos e exercícios físicos. A alta valorização do mundo das imagens e do individualismo, aliada ao volume excessivo de informações, substitui a troca de experiências, causando o empobrecimento da vida interior. O indivíduo não consegue expressar seus sentimentos, atribuindo todos os seus males a uma causalidade inscrita no corpo. A narrativa passa a ser substituída pela ação. Nesse contexto, o analista atual deve reconhecer que os sofrimentos dos pacientes estão relacionados à sua imagem corporal. Além disso, cabe ao analista compreender as transformações do nosso mundo e ampliar a escuta psicanalítica, criando formas de intervenção mais profundas e amplas, com uma flexibilidade e diversidade maiores, permitindo que a psicanálise sustente um número maior de práticas, importantes em cenários mais amplos do que o do consultório privado.

ASSUNTO(S)

escuta contemporaneidade listening contemporary age psicanálise corpo psychoanalysis body psicologia narrativa psicopatologia narrative

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