Escritas do suporte / Support writings

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

14/03/2012

RESUMO

A proposta deste trabalho é pensar o estatuto literário e político de uma escrita, que nomeio Escrita do Suporte, partindo da imagem habitual de um suporte lido como sustentáculo ou mediador neutro, terreno sobre o qual edificar instituições, a que nomear "pátria" ou em que fundar um Estado. Esse terreno neutralizado funciona como lugar de arquivamento e violência, que representa, para as Escritas do Suporte, uma impostura que se deve expor, publicar em seu centro regulador, para que se possa repensar a História. Essa impostura do suporte neutro, que se pretende exposta pelas Escritas do Suporte, mobiliza questões políticas e jurídicas, filosóficas, psicanalíticas e autobiográficas. O trabalho parte de textos de Jacques Derrida e Antonin Artaud, em especial compreendendo a Escrita do Suporte compartilhada entre uma carta de Artaud a André Rolland de Rénéville, escrita em 1932, o ensaio Enlouquecer o subjétil (1998b), no original Forcener le subjectile (1986a), em que Derrida retoma essa carta de Artaud, e a pictografia de Lena Bergstein, no ensaio em português, que se inscreve no lugar da ausência dos desenhos de Artaud, retirados pela artista brasileira do ensaio original, que fazia parte do livro Antonin Artaud: dessins et portraits, de Derrida e Paule Thévenin (1986a). Pela leitura desses textos, trazemos ao questionamento khôra, que Derrida faz intercambiar com o subjétil. Khôra é o suporte metafísico de Platão que excede a dialética. Na leitura do Timeu, de Platão (2011), pensamos tanto esse excesso, como o problema do estrangeiro e da política externa de guerras para a validação da técnica interna grega, a partir de um elemento aparentemente acessório e "pouco sério", a introdução de Sócrates. O problema dessa relação com o estrangeiro, todavia, é destinado ao rodapé por Derrida em Khôra, livro escrito sete anos após o ensaio sobre Artaud (1995b), bem como por Rousseau, como retoma Derrida em nota. Para nossa Escrita do Suporte, trazemos ao centro essa questão, da mesma maneira como a Escrita do Suporte traz ao centro da cena os elementos que nela pareciam acessórios, reservados à margem. Nesse deslocamento, pensamos o problema da língua e da pátria, que Derrida traz a Enlouquecer o subjétil, e, em especial, a questão de um "habitar a casa na apatridade", que lemos com Vilém Flusser (2007). Juntamente com khôra, pensamos outro excesso que Derrida faz intercambiar com o subjétil: cruauté, e com ela relemos os textos de Antonin Artaud. Por fim, compreendemos as estratégias de antecipação, justaposição/sobreposição (l air surajoutée) e encenação de um arrancamento de cena como técnicas compartilhadas por Artaud, Derrida e Bergstein nessa Escrita do Suporte, em seus quatro movimentos: uma primeira neutralização do suporte, seguida pelo desarquivamento de suas variantes, passando para uma denúncia ou publicação da violência dessa neutralidade e, por fim, pela antecipação epistolar do teatro, que compreenderemos como uma dimensão "missiva", referente às cartas que pedem o compartilhamento entre desencontros, recuando as remissões. Esses quatro movimentos são também lidos por um questionamento das políticas do presente, pois é justamente essa a necessidade que se impõe para tais escritas.

ASSUNTO(S)

artaud antonin crueldade derrida jacques derrida jacques cruelty

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