Efeitos das mudanças socioecológicas sobre a pesca artesanal e a captura incidental de Tartarugas Marinhas no Bairro São Francisco (São Sebastião, São Paulo) / Social-ecological change effects on artisanal fisheries and sea turtle by cath in São Francisco (São Sebastião, São Paulo)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

26/01/2012

RESUMO

O objetivo deste estudo foi investigar como as mudanças sócio ecológicas afetam a pesca artesanal e a captura incidental de tartarugas marinhas no bairro São Francisco (São Sebastião, São Paulo) e como os pescadores estão respondendo às alterações nos últimos 60 anos. Para tanto, a capacidade adaptativa de sistemas complexos e o conhecimento ecológico local foram adotados como referencial teórico. Os métodos de coleta de dados consistiram na aplicação de entrevistas semi-estruturadas aos pescadores artesanais (canoa e batera), mapeamento participativo, acompanhamento de desembarque pesqueiro, observação direta e levantamento de dados secundários. Os pescadores observaram várias mudanças ao longo desse período que influenciaram na atividade pesqueira local, especialmente migração de pescadores catarinenses de arrasto de camarão, introdução de petrechos de pesca mais eficientes, aumento do esforço de pesca de embarcações de médio porte, surgimento de novas oportunidades de trabalho com o crescimento urbano e industrial do município e expansão do turismo. Como conseqüência, houve alterações nos petrechos de pesca e pontos de pesca utilizados, redução na quantidade de pescados capturados e aumento na ocorrência de capturas incidentais de tartarugas marinhas. Os desembarques pesqueiros amostrados foram analisados em dois conjuntos: pescarias provenientes de São Sebastião, especialmente da costa norte (Área 1) e da Costa da Ilhabela, Ilha de Búzios e Ilha Vitória (Área 2). Atualmente existe um predomínio do uso de rede de lanço bitana pelos pescadores de canoas e bateras da Área 1, enquanto o cerco-flutuante e a rede de emalhe de fundo foram os petrechos mais empregados na Área 2. A produção total registrada no período de outubro/2009 a setembro/2010 foi superior na Área 2, assim como a riqueza de espécies de pescados. Na Área 1, apenas quatro grupos de pescados (corvina - Micropogonias furnieri; parati - Mugil curema; tainha - Mugil liza e raias - Rajomorphii) foram responsáveis pela maioria das capturas registradas (71% do total). Dos 29% da produção restante, 11% são caratinga (Diapterus spp.) e canhanha (Archosargus rhomboidalis), pescados de baixo valor comercial e tamanhos menores. Houve ainda relatos de alterações no clima local, principalmente relacionadas a um aumento na instabilidade do tempo. As estratégias adaptativas adotadas pelos pescadores para lidar com as mudanças Sócio ecológicas incluíam principalmente, a procura por novas formas de trabalho (não relacionadas à pesca), a migração para a pesca de arrasto de camarão e o uso de petrechos de pesca multiespecíficos (por exemplo, rede de lanço bitana). A motorização das embarcações, além do alcance de áreas de pesca mais distantes, possibilitou que os pescadores enfrentassem a instabilidade do tempo de forma mais segura do que com embarcações a remo. Apesar da capacidade de se adaptarem demonstrada até o momento, o abandono da pesca artesanal por muitas famílias de pescadores associada ao acesso aos meios de comunicação em massa, pode contribuir para a perda do conhecimento ecológico local e sua transmissão. Essa perda pode comprometer a percepção dos pescadores e as estratégias adotadas para enfrentar as mudanças socioecológicas futuras, afetando conseqüentemente, a capacidade adaptativa da comunidade pesqueira do bairro São Francisco.

ASSUNTO(S)

mudanças ambientais conhecimento ecológico local pesca artesanal tartaruga marinha environmental change local ecological knowledge adaptive capacity artisanal fishery sea turtles socioeconomic change

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