Ecologia da polinização e biologia reprodutiva de sete especies de Phaseoleae (Fabaceae)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1995

RESUMO

A ecologia da polinização e a biologia reprodutiva das espécies Canavalia parviflora, C. picta, Dioclea rufescens, D. violacea, Centrosema sagittatum, Vigna candida e Rhynchosia sp. foram estudadas no período de fevereiro de 1991 a setembro de 1993 na Reserva Municipal da Mata de Santa Genebra, Campinas, SP. Estas espécies são lianas, com padrão de floração do tipo "cornucópia", e com sobreposição de floração, entre os meses de março a junho. Apenas D. rufescens floresceu no período de setembro a dezembro. Suas flores estão dispostas em inflorescências expostas da folhagem, apresentam cores vistosas e são tipicamente flores papilionáceas, com pétalas diferenciadas em estandarte, alas e carenas. Os órgãos reprodutivos estão envolvidos pelas carenas. O androceu é diadelfo, com nove estames fundidos na região do filete, formando a bainha estaminal. O estame vexilar pode estar parcialmente ou totalmente livre da bainha estarninal, sendo que na sua região basal forma-se uma base fenestrada com duas aberturas. O gineceu é envolvido pela bainha estarninal e na sua região basal ocorre um nectário floral discoíde. C. parviflora. C. picta e C. sagittatum possuem flores ressupinadas e estandarte com superfície lisa. D. rufescens, D. violacea, Rhynchosia sp. E V candida, as flores estão em posição normal e suas alas apresentam superficie esculturada. O estandarte nas flores de C. parviflora, D. rufescens, D. violacea, Rhynchosia sp. e V candida é encaixado nas alas e carenas por meio de aurículas infletidas. Nas flores de C. picta e C. sagittatum, a calosidade do estandarte é justaposta às aurículas das alas. Estes dois tipos de disposição das pétalas da coroIa é que determinam o funcionamento do mecanismo de polinização nestas espécies. O mecanismo de polinização é do tipo valvular. Os polinizadores pousam sobre as alas ou estandarte, empurrando-nas para baixo; concomitantemente forçam o estandarte ou as alas para trás, com o auxílio da cabeça. Com isto, o estandarte se desencaixa das alas e carenas ou a justaposição entre a calosidade do estandarte e as aurículas das alas é desfeito; os órgãos reprodutivos são liberados e contatam o corpo do polinizador. A antese é diurna ocorrendo no início da manhã, ocasião em que o estigma se encontra receptivo, os grãos de pólen são viáveis e estão disponíveis, há néctar e odor. O néctar é produzido em quantidade relativamente alta, apenas Rhynchosia sp. produz pouco néctar.. A concentração média de açucares no néctar é de 39%. O estigma libera substância mucilaginosa após contato. O mecanismo de liberação de grãos de pólen é primário, apenas V. candida exibe mecanismo secundário de apresentação de grãos de pólen do tipo "pollen brush". Estas espécies são autógamas, sendo a autogamia limitada pela hercogamia espacial (representada pela localização do estigma à fTente das anteras), presença de pelos na base do estigma de C. sagittatum e V. candida e ausência de autopolinização espontânea. Certo grau de polinização cruzada é mantido devido a ocorrência do mecanismo de polinização. Em Dioc/ea rufescens a ausência de trutos maduros a partir de polinizações manuais e a partir de condições naturais indica que, provavelmente os indivíduos são clones e que apresentam algum tipo de incompatibilidade. As espécies estudadas são melitófilas, sendo polinizadas por abelhas Anthophoridae, Apidae e Megachilidae. Canava/ia parviflora, C. picta, Dioc/ea rufescens, D. vio/acea, e V. candida possuem como polinizadores primários espécies de Centris. Abelhas Euglossini são os polinizadores primários de Centrosema sagittatum e Hypanthidillm sp. é o polinizador primário de Rhynchosia sp.. De modo geral, o comportamento de visita dos polinizadores às flores de Phaseoleae é semelhante entre si, apenas o local da deposição de grãos de pólen no corpo da abelha é diferente. As flores de C. parviflora depositam o pólen na região superior da cabeça das abelhas. C. picta, na região dorsal do tórax das abelhas, em C. sagittatllm, a deposição varia de acordo com o tamanho do polinizador, podendo ser na região dorsal do abdomen de Ellglossa annectans ou na região dorsal do tórax de Xylocopa suspecta. D. nifescens e D. violacea depositam o pólen na tíbia do primeiro par de pernas de Centris mocsaryi, ou na região ventral da cabeça, próximo à mandíbula em X frontalis, ou na região ventral do abdomen de C. bicolor e C. fuscata, ou na região ventral do tórax de C. labrosa. Em Rhynchosia sp. a deposição do pólen ocorre na região ventral do abdomen de Hypanthidillm sp. e em V. candida o pólen é depositado na região lateral do tórax das abelhas. Nestas espécies de Phaseoleae as flores são morfologicamente semelhantes e exibem sobreposição de floração interespecífica, contudo não ocorre competição por polinizadores, uma vez que cada espécie apresenta um polinizador primário diferente e cada espécie de planta deposita o pólen em regiões diferentes do corpo do polinizador. Ainda, estas espécies representam importante fonte de néctar para abelhas Anthophoridae, Apidae e Megachilidae

ASSUNTO(S)

abelha polinização leguminosa reprodução

Documentos Relacionados