DUAS VERSÕES DO DESEJO: Lacan, Deleuze e Guattari.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Este trabalho volta-se à delimitação do desejo como falta, no Seminário 7, de Jacques Lacan, e como excesso, no Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Lacan retoma a crítica freudiana ao Amai ao próximo como a ti mesmo para discutir alguns ideais que passaram a guiar o que ele denominou de pastoral analítica, voltada a promessas de felicidade e a uma espécie de ortopedia dos sujeitos. Uma das estratégias críticas de Lacan é o uso do estruturalismo, o qual é também um dos focos das críticas do Anti-Édipo. Ao inconsciente estruturado como linguagem, perpassado por uma falta fundamental, Deleuze e Guattari opõem o desejo como excesso. Ao abordarmos o desejo consideramos que: a) é impossível criar, ou mesmo dizer, um conceito, bem como efetuar uma clínica sem que os coloquemos como política, b) é impossível pensar conceito ou clínica sem vê-los como respostas a certas questões políticas, c) é possível a indiferença em política ou em filosofia, mas não a indiferença à política ou à filosofia. Assim, voltamo-nos a um estudo das relações entre o Seminário 7 e O anti-Édipo e alguns aspectos do cenário político-intelectual francês da segunda metade do século XX que contaram com a participação de Lacan, Deleuze e Guattari, com destaque para o movimento estruturalista. Além disso, voltamo-nos a um estudo do conceito de desejo como falta, cujas coordenadas são estabelecidas frente ao Outro. No jogo de proximidade distanciamento do Outro, a proibição do incesto é colocada como fundamento da estruturação do inconsciente como linguagem. Os engodos produzidos neste jogo ligam-se à busca do objeto como um bem que se deve reencontrar. Mas o Bem Supremo é um bem proibido desde sempre e, como tal, condição de possibilidade do desejo. O desejo como excesso foi pensado a partir da escolha de Deleuze e Guattari pela perspectiva histórica, a qual tem como um dos resultados a defesa da posteridade da lei, contraposta à existência de uma Lei primordial da qual nasceria o desejo. Destas definições de desejo destacamos algumas implicações no campo da ética. Além de o Seminário 7 dedicar-se à ética da psicanálise, estabelecida como um não ceder de seu desejo, como contraponto direto à pastoral analítica e sua tentativa de apaziguar o desejo, O Anti-Édipo também é perpassado por questões éticas. Levamos em conta principalmente a discussão da psicanálise como uma teoria-prática sem álibi e do Anti-Édipo como um livro de ética não-fascista.

ASSUNTO(S)

falta desejo excesso estruturalismo excess lack ethics ética psicologia social structuralism desire

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