Dissociação funcional dorso-ventral do hipocampo na mediação do comportamento defensivo de ratos revelada pelo bloqueio dos receptores glutamatérgicos subtipo NMDA
AUTOR(ES)
Luciane Pereira Nascimento Häckl
DATA DE PUBLICAÇÃO
2007
RESUMO
Vários estudos têm indicado que o hipocampo (HPC) é uma região funcionalmente distinta ao longo de seu eixo dorso-ventral e desempenha um papel importante em processos associados com emoção e cognição do comportamento defensivo. O conhecimento das bases neurais envolvidas na organização das respostas de defesa tem sido decorrente principalmente de estudos comportamentais que avaliam as reações emocionais de roedores diante de estímulos aversivos, como a exposição em ambientes com espaços abertos, um choque elétrico nas patas ou na presença do odor de um predador. A participação da neurotransmissão glutamatérgica na mediação do comportamento defensivo tem sido alvo de muitos estudos e, dados experimentais em roedores têm revelado que compostos que reduzem a ativação glutamatérgica, seja através do bloqueio de seus receptores ou pela redução de sua liberação nos terminais sinápticos, provocam um perfil de ação semelhante a ansiolíticos em modelos animais de ansiedade. Com base nestes aspectos, o objetivo do presente estudo foi investigar a participação dos receptores NMDA distribuídos ao longo do eixo dorso-ventral do HPC na mediação de aspectos emocionais e cognitivos do comportamento defensivo de ratos expostos ao teste e reteste do LCE, ao odor de gato e ao contexto, 24 h após a exposição a este estímulo, e ao treino e teste da tarefa de esquiva inibitória do tipo descida da plataforma. Para este propósito foi usado o antagonista competitivo do receptor NMDA, AP5, administrado no HPC ventral ou dorsal. Os resultados mostraram que a infusão pré-teste de AP5 no HPC ventral, mas não no hipocampo dorsal, reduziu o comportamento defensivo em ratos submetidos ao teste do LCE. Além disso, a infusão de AP5 pré-teste, pósteste ou pré-reteste no HPC ventral ou dorsal não afetou os processos de aquisição, consolidação e evocação da resposta de esquiva aos braços abertos de ratos submetidos ao LCE. No teste do odor de gato, os resultados mostraram que a infusão de AP5 no HPC ventral, antes da exposição ao estímulo aversivo, reduziu o comportamento defensivo de ratos expostos ao odor de gato, o que não foi observado com a infusão de AP5 no HPC dorsal, nestas mesmas condições experimentais. Além disso, a infusão de AP5 no HPC ventral ou dorsal, antes da sessão contexto, sem o odor de gato, não afetou a expressão do comportamento defensivo. No teste de esquiva inibitória do tipo descida da plataforma, os resultados mostraram que a infusão pré e pós-treino de AP5 no HPC dorsal, mas não no HPC ventral, prejudicou a aquisição e a consolidação da memória no teste de esquiva inibitória. Estes resultados mostraram ainda que a infusão de AP5 antes do teste no HPC ventral ou dorsal não interferiu com a evocação da memória nesta tarefa. Além disso, os resultados mostraram que infusão pós-treino de AP5 no HPC ventral, interferiu com a consolidação da memória de esquiva inibitória, quando os ratos foram familiarizados previamente ao aparato do treino. Em conclusão, os resultados sugerem uma diferenciação funcional ao longo do eixo dorso-ventral do HPC, implicando a participação de receptores NMDA do HPC ventral, mas não do HPC dorsal, na mediação dos aspectos emocionais do comportamento defensivo.
ASSUNTO(S)
farmacologia animais - comportamento neurorreguladores farmacologia receptores de n-metil-d-aspartato
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