Diabos (diálogos) intermitentes: individualismo e crítica à instituição religiosa em obras de Eça de Queirós / Devils (dialogues) intermittent: individualism and criticism to the religious institution in Eça de Queirósworks

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Entre os inúmeros personagens criados e eternizados por Eça de Queirós ao longo de sua produção, o diabo talvez seja aquele que menos recebeu atenção das análises críticas voltadas às obras do escritor. Longe de ser uma personagem dita marginal, pois está presente desde os primeiros textos até as obras derradeiras desenvolvidas por Eça, o diabo parece mesmo ter sido preterido por suas figurações quase sempre pequenas e/ou supostamente despretensiosas. Pretendemos neste trabalho volver o olhar para essa personagem na obra de Eça de Queirós, confirmando nossa hipótese de que com poucas, mas sistemáticas aparições, Satanás desempenha um papel fundamental na produção do escritor, especialmente quando ele procura fazer menções a conceitos do individualismo moderno e criticar a Instituição religiosa oficial de Portugal, a Igreja Católica, bem como tudo o que estivesse voltado a ela e à sua atuação no país. Principiamos averiguando quem é Satanás, como este mito floresceu e, principalmente, o papel da Igreja em sua criação, formalização e atualização ao longo dos séculos até nossos dias. Posteriormente, para compreendermos a concepção do diabo que Eça veicula em suas obras, dedicamos atenção ao diabo literário, ou seja, às diversas formas e maneiras pelas quais o demônio figurará na literatura, principalmente por intermédio do mito fáustico e dos sentidos que autores da literatura francesa dos séculos XVIII e XIX, da qual Eça foi leitor, atribuíram-lhe, quase sempre utilizando-o como paladino do pensamento individualista. Ainda, antes de partirmos para nossa leitura crítica, analisaremos o diabo da religiosidade popular portuguesa, o qual parece ter sido também fonte de inspiração para Eça compor seus diabos, devido a uma série de valores controversos agregados à figura demoníaca por essa forma peculiar de viver a religião. Finalmente, na última parte do trabalho, passaremos às análises das figurações do diabo em obras das diversas fases da produção do escritor, indo dos textos das Prosas Bárbaras, passando pelos diabos de O Mandarim e A Relíquia até chegarmos aos diabos das Vidas de Santos. Concluiremos nosso trabalho confirmando a hipótese de que o diabo não é somente mais uma personagem secundária menor veiculada por Eça de Queirós, mas sim uma das principais, quando os assuntos desenvolvidos em seus textos foram as apologias voltadas ao individualismo moderno e a permanente crítica direcionada à Instituição religiosa.

ASSUNTO(S)

eça de queirós individualismo instituição religiosa literatura portuguesa portuguese literature religious institution individualism devils figurations eça de queirós figurações do diabo

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