Determinação de ácidos graxos trans e modulação da expressão de receptores ativadores da proliferação de peroxissomos (PPARs) em tecido adiposo de obesos e não obesos

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A obesidade é uma síndrome metabólica complexa de etiologia multifatorial, que afeta um número progressivo de indivíduos. Estudos epidemiológicos confirmam que a síndrome metabólica está relacionada com obesidade abdominal, resistência à insulina, diabetes e outros fatores de risco metabólicos para doenças cardíacas. O tipo de alimentação, em especial os ácidos graxos (AG) consumidos, podem estar relacionados com os distúrbios da obesidade. Os ácidos graxos trans (AG trans) são obtidos pela dieta, em produtos contendo gorduras hidrogenadas e derivados dos animais ruminantes. Estes AG são bem absorvidos pelo organismo, e a composição destes no tecido adiposo (TA) reflete o consumo a longo prazo. Na obesidade, o metabolismo do TA é alterado e o restabelecimento da homeostase energética requer a identificação e regulação de genes envolvidos no metabolismo de lipídeos e carboidratos. Os receptores ativadores da proliferação de peroxissomos (PPARs) estão envolvidos na modulação do metabolismo e são ativados por AG. Os objetivos deste trabalho foram determinar o conteúdo total de AG trans no TA subcutâneo (TAS), retroperitoneal (TAR) e visceral (TAV) de obesos e não obesos submetidos à cirurgia bariátrica ou cirurgia abdominal; analisar o padrão de expressão do PPARb/d e PPARg1-3 nos diferentes depósitos destes TA; e comparar a expressão destes receptores em obesos e não obesos. Os TA foram obtidos por cirurgia. Para quantificar os AG trans, os lipídeos foram extraídos, saponificados e esterificados. Os níveis de AG trans foram medidos por FTIR-ATR. Para quantificar o mRNA, o RNA total foi extraído com TRIzol, foi reverso transcrito e determinado quantitativamente pela reação em cadeia da polimerase (qRT-PR). A média de AG trans em pacientes obesos foi de 6.3% no TAR e 8.7% no TAV. Nos pacientes não obesos, os resultados foram 6.9% no TAS e 9.3% no TAV. Não houve diferença estatística entre os grupos. No entanto, o depósito de AG trans no TAV foi maior nos pacientes obesos mórbidos (P<0.001) e nos não obesos (P<0.05). Por outro lado, a quantidade de mRNA do PPARb/d nos diferentes depósitos de TA de obesos mórbidos mostrou uma diminuição significativa no TAV (p<0.05). No grupo de não obesos, os níveis de PPARb/d foram mais altos no TAS (p<0.05). Os níveis de PPARg1-3 não diferiram estatisticamente entre os depósitos de TA tanto de obesos quanto não obesos. Quando obesos e não obesos foram comparados, os resultados revelaram uma diminuída expressão de PPARb/d no TAS (p=0.058) e TAV (p=0.094) de obesos mórbidos. A expressão de PPARg1-3 foi significantemente aumentada no TAS (p=0.022) e diminuída no TAR (p=0.034) nos obesos mórbidos. A expressão de PPARb/d no TAS e TAV correlacionou negativamente com a medida do quadril e com os níveis de insulina, respectivamente. Os níveis de mRNA PPARg1-3 no TAR correlacionaram negativamente com a medida da cintura e do quadril e no TAV correlacionou positivamente com a medida da cintura. Os valores encontrados de AG trans em todos os TA analisados são maiores do que os reportados em outros países. Nós encontramos maior depósito destes AG no TAV do que nos outros estoques. Os níveis elevados no TAV preocupam devido à alta taxa de lipólise deste tecido e sua forte associação com alterações metabólicas. Os altos níveis de AG trans encontrados refletem, ainda, o alto consumo destes na dieta dos brasileiros. Os resultados da expressão de PPARs demonstram que PPARb/d e PPARg1-3 são quantitativamente diferentes nos depósitos de TA de obesos mórbidos comparados a não obesos e que o padrão de expressão do PPARb/d é característico de cada depósito de TA. Os dados de correlação reforçam a relação destes receptores com a obesidade.

ASSUNTO(S)

Ácidos graxos trans proliferadores de peroxissomos obesidade

Documentos Relacionados