Determinação da frequencia alelica de tres polimorfismos da região promotora do gene da proteina C

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

A cascata da coagulação sanguínea humana, em condições normais, é regulada por vários mecanismos naturais de anticoagulação. Entre esses mecanismos está a chamada Via da Proteína c (PC) Anticoagulante. A PC é uma proteína hepática dependente da vitamina K, que, quando ativada, exerce uma potente atividade anticoagulante e pró-fibrinolítica. Os pacientes com deficiência de PC apresentam quadro clínico caracterizado por fenômenos tromboembólicos Apenas 2-5% dos pacientes com trombose venosa apresentam deficiência de Pc. Contudo, devido à importância desse anticoagulante natural, a diminuição de sua concentração, mesmo que ainda dentro dos limites da normalidade, talvez possa ser um fator de risco a mais, que contribua para a trombose nesses pacientes. Recentemente foram descritos três polimorfismos na região promotora do gene da PC; um polimorfismo C/T, na posição -1654 e um polimorfismo A/G, : um polimorfismo na posição 1641 A/T, na posição -1476 (REITSMA, 1993). A análise desses três polimorfismos, em 24 famílias normais da Holanda, demonstrou que os três haplótipos mais freqüentes eram CAA, CGT e T AA, e representavam 88% dos casos. Segundo os autores os polimorfismos CGT e T AA tinham relação com a concentração da atividade plasmática de PC, na qual o genótipo CGT está associado a um risco elevado de trombose venosa, uma vez que foi mais freqüente nos indivíduos com trombose (risco relativo associado a doença de 1.9 ou OR de 1.9) frente ao genótipo T AA (OR de 1.6). Neste trabalho determinamos a freqüência destes 3 polimorfismos em três grupos étnicos da população brasileira (caucasóide, negróide e indígena), e em pacientes com trombose venosa mas sem deficiência congênita de Pc. Analisamos se em nossa população havia uma correlação entre o genótipo e a concentração da atividade de PC, ou se algum dos genótipos estava associado ao risco de trombose. A população indígena foi constituída por 87 indivíduos. Observou-se uma maior freqüência de homozigotos nos três genótipos estudados (CC - 52,9%; GG - 54% e AA 70,1 %), que também se manteve na análise considerando os três genótipos, simultaneamente (CC/GG/ AA -21,8%). Tal resultado leva-nos crer que os índios brasileiros estudados no presente trabalho ainda não sofreram folie influência da miscigenação, bastante comum em nosso país. Esse grupo indígena tem sua tribo em localização razoavelmente isolada do convívio do homem civilizado, o que resulta na pouca variação genômica (baixo fluxo gênico). A população de doadores caucasóide e negróide foi constituída por 216 homens e 50 mulheres. A população caucasóide foi constituída por 188 indivíduos (147 homens e 41 mulheres) e a negróide por 78 indivíduos (69 homens e 9 mulheres). Quando esses grupos foram analisados em conjunto, observou-se uma maior freqüência de heterozigotos nos 3 polimorfismos (CT 59,4% e AG - 59,4%; AT-70,7%). A análise conjunta dos 3 polimorfismos revelou uma predominância do genótipo heterozigoto (CT/AG/AT - 27,4%). Isto sugere um elevado fluxo gênico, o que é esperado, visto a alta taxa de miscigenação em nossa população. A freqüência dos polimorfismos na raça caucasóide foi CT-57%, AG-59%; e AT-64%; e na raça negróide CT -65%, AG-60% e A T -77%. A conjugação dos 3 polimorfismos mostrou que na raça caucasóide houve predominância do genótipo CT/AG/AT (28,3%) assim como na raça negróide (30,1 %). Sendo que as populações caucasóide e negróide não apresentaram diferença significativa. A dosagem da atividade de PC na população de doadores variou de 70 a 150%, com uma média de 102%. Contudo, não se evidenciou nenhuma relação entre os níveis de PC e os genótipos, exceto para o polimorfismo A/T, conforme descrito na população holandesa. Também, o genótipo CC/GG/TT, associado a níveis diminuídos de PC naquela população foi praticamente nulo (menor que 1%) em nossa população de brasileira, não permitindo qualquer análise. A média da atividade de PC dos 2 genótipos mais freqüentes (CT/AG/AT e CC/AG/AT) na população de doadores caucasóide e holandesa foi semelhante (p=0,039). Verificou-se nos doadores uma diferença significativa nos níveis de PC no polimorfismo 3, entre AA e A T com uma concentração da atividade de 108% e 99% (p=O, 015), respectivamente, associada a homozigose CC, que também mostrou uma diferença significativa entre CC/ AA e CC/AT com uma concentração da atividade de 112.76% e 99.96% (p=0,004), respectivamente). Isto poderia sugerir que o polimorfismo AT em homozigose para o C influencia na diferença dos níveis de PC, em relação ao polimorfismo 3. Como os resultados na população holandesa são opostos aos nossos, pois aqueles indivíduos com o genótipo CC/ A T exibem níveis de PC mais elevados, não permitem que se faça qualquer afirmativa com segurança. Na população com trombose, houve predominância do sexo feminino, sendo 35 homens e 88 mulheres. Quanto à raça, também houve uma predominância de indivíduos caucasóides (n=108) sobre os negróides (n=15). Verificou-se uma maior freqüência de heterozigosidade dos 3 Polimorfismos (CT-65,5%; AG-54% e AT-55,5%), assim como do genótipo heterozigoto (CT/AG/AT-21,1%). Mesmo quando os pacientes foram separados por raça, também verificou-se um maior índice de heterozigozidade, sendo CT -64%;e AG-52,3% e A T -54% no caucasóides e, CT -75%; AG-66,7% e A T - 77,7% nos negróides. Sendo que as populações caucasóide e negróide não apresentaram diferença significativa. o polimorfismo 2 em homozigose para o A foi significativamente mais freqüente na população com trombose (46%), quando comparada à população de doadores (24.4%) (p=0.005). Tais dados sugerem que o genótipo AA é um fator de risco para trombose (aR 1.93, 95% CI, 1.11 a 3.24). Contudo, em nossa população esse genótipo não está associado a níveis Por outro lado, o haplótipo CGT, considerado um fator de risco para trombose nos pacientes holandeses, foi encontrado em apenas 1 % dos nossos pacientes. Apesar de serem 2 populações diferentes, caso esse genótipo fosse um fator de risco, esperaríamos uma maior freqüência em nossos pacientes, assim como verificamos um aumento da prevalência de outras alterações genéticas associadas à trombose, como o fator V de Leiden, a mutação da protrombina e a mutação no gene da metilenotetrahidrofolatoredutase. A freqüência dos genótipos com maior e menor concentração da atividade de PC não é diferente entre doadores e pacientes com trombose, sugerindo que esses polimorfismos parecem não estar diretamente ligados ao risco de trombose. Portanto, nossos resultados demostraram que em nossa população, tanto de doadores como de pacientes com trombose, esses 3 polimorfismos praticamente não estão associados com os níveis de atividade plasmática de PC. Esses resultados mais uma vez ilustram a grande diversidade genética, nas populações humanas, mesmo entre grupos étnicos semelhantes, apontando para a importância de se analisar individualmente cada população, para que as conclusões possam ser bem fundamentadas

ASSUNTO(S)

trombose proteinas polimorfismo (genetica)

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