Desde dentro: processos de produção de saúde em uma comunidade tradicional de terreiro de matriz africana

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

09/03/2012

RESUMO

Esta tese tem como referenciais teórico-paradigmáticos o pensamento sistêmico complexo e a filosofia tradicional africana. Nesta perspectiva, propõe a reflexão sobre a relação entre mýthos e lógos no pensamento tradicional africano, bem como sobre o diálogo entre pensamento mítico e pensamento científico. Tem como principal objetivo compreender os processos de produção de saúde em uma comunidade tradicional de terreiro de matriz africana, problematizando a dialógica entre o paradigma civilizatório ocidental e o paradigma civilizatório negro-africano. Trata-se de um estudo qualitativo que buscou o diálogo entre o que convencionamos chamar de método recursivo e a etnografia. Foram participantes vinte vivenciadores de uma comunidade tradicional de terreiro de Batuque de tradição Jeje-Nàgô, da cidade de Porto Alegre, RS, fundada há mais de 81 anos e com cerca de 150 adeptos. No processo de produção de informações, construímos um corpus de pesquisa a partir da observação participante, de anotações em diário de campo, de entrevistas abertas, de um grupo de discussão e de uma produção fotográfica. A compreensão do material empírico partiu das reflexões teóricas sobre alguns organizadores civilizatórios invariantes negro-africanos das comunidades tradicionais de terreiros de matriz africana, de modo que ao longo desse processo emergiram três organizadores da produção de saúde: 1) unidade cósmica e força vital; 2) organização mítica e relação sujeito-ancestral-divindade; 3) pertencimento e identidade cultural. No terreiro, a concepção de saúde transcende a perspectiva da ausência de doença na medida em que é concebida como força vital, como a própria existência. Ela opera na perspectiva da complementaridade e interdependência dos seres a partir de uma noção de totalidade, de integralidade da vida. A complexidade da dinâmica civilizatória do terreiro não pode ser compreendida por categorias de análise do paradigma civilizatório ocidental. Faz-se necessário romper a hegemonia do pensamento eurocêntrico na expectativa de, progressivamente, inscrever e visibilizar na cena acadêmica outros modos de compreender o mundo, outras racionalidades no estudo em ciências humanas, sociais e da saúde.

ASSUNTO(S)

psicologia social saÚde coletiva etnografia filosofia africana psicologia

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