Dependencia comportamental na velhice : uma analise do cuidado prestado ao idoso institucionalizado

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

O número de idosos tem aumentado progressivamente sem que a sociedade esteja preparada para lidar com esse novo cenário. A necessidade que desponta é a formação de recursos humanos qualificados para trabalharem com idosos que vivem na comunidade ou instituições. No que se refere às instituições, o cuidado em geral é realizado por atendentes ou auxiliares de enfermagem pouco qualificados e com pouca ou nenhuma formação em gerontologia. O objetivo deste trabalho é analisar o cuidado prestado ao idoso institucionalizado através de observações da interação entre idoso e funcionário e entrevistas com funcionários. Primeiramente procuramos caracterizar os sujeitos desta pesquisa, ligados à instituição escolhida para a análise, através de fichas de identificação de idosos e funcionários. O quadro fixo de funcionários da instituição é composto em sua totalidade por mulheres, com idade entre 30 e 63 anos, a maioria com baixo grau de instrução, pouco tempo de trabalho na instituição. O cuidado direto ao idoso é realizado por atendentes de enfermagem que fazem rodízio. A instituição conta com 27 idosos, 14 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, com idade entre 55 e 92 anos, a maioria alfabetizada, porém sem completar o 1 Q grau, solteiros ou viúvos, católicos e independentes para as atividades de vida diária. As observações da interação funcionário-idoso foram realizadas durante um mês, no período das 7 às 12 horas, em três situações específicas (banho, alimentação e medicação), definidas após um estudo-piloto. Foi realizado o registro cursivo dessa interação em um impresso próprio denominado "protocolo de observação". Em 20% das observações houve um segundo observador, treinado previamente para que pudéssemos testar a fidedignidade dos dados. Foram 360 sessões de observação, sendo 240 em situação de medicação, 18 de alimentação e 102 de banho, categorizadas de acordo com o padrão de interação apresentado pelo funcionário e pelo idoso, segundo a atividade realizada. Quatro tipos de padrão de interação foram identificados: manutenção de autonomia, estímulo à autonomia, estímulo à dependência e manutenção da dependência. Foi possível verificar que o cuidado prestado .ao idoso institucionalizado caracterizava-se principalmente pela manutenção de comportamentos dependentes nas três situações. O estudo observacional gerou a hipótese de que os desempenhos dos funcionários seriam mediados por suas concepções sobre dependência, competência e cuidado. Com o intuito de explorar essa questão foi planejado um estudo de levantamento que consistiu em entrevistar os funcionários. Para tanto, foi elaborado um filme e um roteiro de entrevistas. O filme, de seis minutos de duração, focalizava o cuidado prestado a idosos dependentes parciais, em situação de alimentação, em que o cuidador estimula a dependência, baseado em situações observadas anteriormente. O filme foi dirigido por dois professores de um grupo de teatro de uma cidade do interior de São Paulo. Participaram como atores idosos de um Grupo da Terceira Idade, integrantes do grupo teatral e como coadjuvantes idosos de um asilo, que serviu como cenário. A realização do filme consistiu de 10 sessões de ensaio, seis horas de gravações e 20 horas para edição final, todas efetuadas por empresa especializada. As entrevistas foram realizadas individualmente, seguindo-se um roteiro previamente estabelecido que serviu de orientação para a entrevistadora. O roteiro foi elaborado tomando-se por base as observações efetuadas e a entrevista foi desenvolvida procurando-se obter, através do discurso dos entrevistados, suas concepções sobre dependência, competência e cuidado prestado ao idoso institucionalizado. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. O discurso dos funcionários entrevistados neste trabalho indica que eles acreditam que a dependência ocorre majoritariamente por doença e não é uma característica exclusiva dos idosos, embora muitos tenham ressaltado que ocorre mais nesta faixa etária. Não há consenso de que a dependência de um determinado comportamento possa ser generalizada para outras situações. A concepção dos funcionários quanto ao sentimento de um idoso dependente é bastante diversificada. Para uns ser dependente significa ser triste, isolado e depressivo enquanto que para outros é uma forma de relação, apego ou recompensa. Com relação à competência do idoso, a maioria dos entrevistados acredita que é possível fazer com que um idoso mude. Acreditam que a dependência do idoso está associada ao fato de que ele busca atenção do funcionário mais do que propriamente à sua incapacidade para realizar determinadas atividades. Com respeito aos cuidadores, para os entrevistados o cuidado ao idoso pode ser realizado tanto por homens como por mulheres, porém para situações que envolvem privacidade, a maioria acha que o cuidado deve ser realizado por mulheres. Quanto às dificuldades no cuidado os mais relatados são falta de força física do cuidador, dificuldade de locomoção e precariedade de compreensão do idoso. O último aspecto analisado refere-se às qualidades do cuidador que, para o pessoal técnico, são principalmente paciência e formação especializada e para os funcionários de apoio, paciência e "amor". Os dados obtidos fortalecem a noção de que o tipo de cuidado prestado ao idoso institucionalizado e os padrões de interação sociais que se estabelecem entre ele e os funcionários são mediados por suas concepções e influenciados por estereótipos. Além disso, os padrões de interação na situação de cuidado são influenciados por eventos situacionais associados ao contexto físico, social e profissional em que se dá o cuidado, pelas características de personalidade, pela competência comportamental e pela funcionalidade física do idoso que é alvo do cuidado e, evidentemente por variáveis do comportamento e da personalidade do cuidador. A formação de recursos humanos em gerontologia só será possível e efetiva se considerarmos todos esses elementos no contexto do cuidado. Conhecer essa realidade é uma condição básica para o trabalho profissional em instituições para idosos

ASSUNTO(S)

idosos dependencia (psicologia) velhice

Documentos Relacionados