De leprosário a bairro: reprodução social em espaços de segregação na Colônia Antonio Aleixo (Manaus-AM) / From leprosarium to neighborhood: social reproduction in areas of segregation in the Colony Antonio Aleixo

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

16/06/2011

RESUMO

Desde a antiguidade, as características epidemiológicas da hanseníase favoreceram sua propagação, principalmente diante de condições de adensamento populacional, deficiência de cuidados de higiene e baixa imunidade. As deformidades provocadas pela doença sempre degradaram a imagem do indivíduo, favorecendo a sua estigmatização. A intensificação do esforço em segregar os doentes com hanseníase no Brasil foi resultado de escolhas e formas de intervir na sociedade. A situação econômica do século XIX e XX, justificada pelo aumento dos casos de hanseníase e da necessidade de proteger a sociedade, levou as autoridades amazonenses, espelhadas nas condutas praticadas na Europa séculos atrás, a buscarem formas de criar locais para segregação e controle dos pacientes. Foi com este fim que surgiu o Leprosário Colônia Antonio Aleixo, no município de Manaus, em 1942. Nossa pesquisa tem como objetivo analisar a reprodução social (relação trabalho e vida) de moradores do bairro Colônia Antonio Aleixo em Manaus (AM), ex-colônia de hansenianos desde sua instalação até a atualidade, na transição de leprosário a bairro. Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, de natureza transversal descritivo-analítico, com abordagem baseada na concepção materialista e dialética da história, tendo sido privilegiados levantamentos de campo, com entrevistas, aplicação de questionários, mapeamentos e séries fotográficas, bem como levantamentos em fontes secundárias, em órgãos governamentais e núcleos de pesquisa, além de revisão bibliográfica. Os resultados mostram a discriminação e as práticas excludentes que os portadores de hanseníase puderam experimentar, praticada pela sociedade, família, governo, equipe de saúde e pelos administradores da Colônia. As redes sociais presentes na Colônia mostraram-se muito importantes para o enfrentamento da doença, seja pela sua função objetiva (ajuda prática), seja pela sua função subjetiva (apoio e afeto). Analisando a forma de viver dos doentes segregados, percebemos como o tratamento negligenciado os levou a consequências físicas e sociais graves, atingindo sua autonomia e sua auto-estima. Embora o bairro hoje possua serviços básicos de infraestrutura (escolas, hospitais, energia elétrica, água potável, transporte, segurança, dentre outros), todos apresentam graves deficiências. Quanto à situação socioeconômica das famílias do bairro, percebemos que 77,8% delas apresentam deficientes formas de trabalhar e viver, ou seja, sua inserção social simultaneamente não lhes confere estabilidade no momento da produção e cuja inserção no momento da reprodução só lhes confere luta pela sobrevivência. O processo de reprodução social dos moradores deste bairro segue a tendência de todo o país, mas consegue ter distorções maiores e apresentar maior gravidade. A identificação das famílias do estrato inferior (formas de trabalhar e de viver instáveis), em particular, é socialmente e epidemiologicamente muito importante, pois, é aí que se insere o núcleo básico da pobreza e da miséria e a sua reprodução.

ASSUNTO(S)

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