Da arte à educação: a música nas escolas públicas - 1838-1971

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este estudo traça o percurso histórico do ensino da música nas escolas, demarcando seus processos de adaptação e transformação em disciplina escolar. Partiuse de sua instituição como matéria no currículo do Colégio Pedro II, em 1838 até a sua exclusão dos currículos escolares, em nível federal, em 1971. Fundamentada na perspectiva da História das disciplinas escolares, formulada por André Chervel, assim como de outras referências teóricas, baseadas em Gimeno Sacristán e Dominique Julia, evidenciaram-se as características que distinguiam o ensino da música escolar (ou educacional) do ensino especializado da música (ou artístico), ressaltando as diferenças de finalidades, conceitos, objetivos, técnicas e conteúdos. Por meio deste estudo foi possível compreender como o ensino da música ordenou-se para atender às funções a que se destinou nos projetos educacionais aos quais se vinculou, e caracterizar as condições que lhe impuseram necessidades especificas para que se configurasse de um modo particular, adequando-se às atividades e às condições escolares. Pela análise das produções dos intelectuais da música que atuaram na proposição e no debate das idéias sobre o ensino de música nas escolas, privilegiando a produção de livros didáticos, constatou-se que os rumos da educação musical foram encaminhados com vistas à educação, e não para o exercício e produção da arte. No curso dessas transformações, delimitou-se um novo ramo de conhecimento que, de posse de um conjunto diverso de saberes, necessitou criar um novo profissional e habilitá-lo, em instituições criadas especificamente para tal fim. O processo de especialização instaurou a necessidade de criar níveis de ensino, magistério especializado, mecanismos de controle e fiscalização, gerando uma ordenação de postos e a instituição de uma carreira no âmbito do funcionalismo público e de uma profissão cuja habilitação, reconhecida oficialmente no âmbito federal, tornou-se indispensável para o exercício profissional. Para tanto, foram compulsados os currículos e programas de ensino das escolas primárias, secundárias e normais, de conservatórios e institutos e, dos cursos de especialização, confrontados com a legislação, relatórios, orientações oficiais, revistas especializadas e jornais, além de álbuns de música, álbuns fotográficos e trabalhos de alunos. A análise dos álbuns de música revelou como a música, inicialmente, foi incorporada nos processos escolares por seu valor educativo. No projeto republicano, assumiu a função de propagar a cultura cívica, transmitindo mensagens de orgulho, coragem e patriotismo, como também, de transmitir o patrimônio da música culta, predominantemente europeu, para a experiência das crianças. O Guia Prático, de Villa-Lobos, foi analisado sob o prisma de material didático que condensava os elementos para garantir o sentido de identificação e unificação cultural, revestidos da estética modernista, como exemplo da música culta e de bom gosto. E, no período pós-64, o ensino de música privilegiava o ensino dos hinos, a fim de disseminar o amor à pátria. Ressalta-se a impregnação dos ideários que emergiram de cada projeto educacional e estão presentes no imaginário atual, dando à música um caráter educativo, responsável pela formação integral e cultural, que conduz ao congraçamento social e desenvolve habilidades específicas

ASSUNTO(S)

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