Construções imaginárias e memória discursiva de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2012

RESUMO

Esta tese, filiada à Análise do Discurso de linha francesa, fundada por Michel Pêcheux, tem como foco investigar as relações de contradição postuladas na construção do imaginário de brasilidade e no apagamento da identidade dos imigrantes alemães, entre os discursos e as práticas políticas do Governo Vargas e os discursos dos imigrantes alemães e seus descendentes sobre como essa política foi implantada. Para isso, nosso corpus discursivo compõe-se, especificamente, de entrevistas realizadas com imigrantes e filhos de imigrantes alemães, sujeitos que chegaram ao Brasil por volta do final do século XIX e início do século XX. Desta forma, buscamos analisar as relações de contradição que entram em jogo entre os discursos e as práticas do governo do Estado Novo sobre as questões de nacionalidade e, ao mesmo tempo, os discursos de imigrantes e seus descendentes, envolvendo a memória discursiva, pela qual emerge o reconhecimento ao grupo de alemães-brasileiros e a interdição do sujeito pela língua. No primeiro momento, discutimos a concepção de identidade e sua relação com a língua na constituição dos elementos de identificação dos sujeitos imigrantes a partir dos saberes que os interpelam, os saberes da Formação Discursiva de Imigrantes Alemães. Na segunda parte do trabalho, mostramos que a língua é o elemento simbólico de identificação e o elo dos imigrantes com seus antepassados e é por meio dela que o governo varguista procura instituir a construção imaginária de brasilidade. Se por um lado, a língua nacional é um atestado jurídico de brasilidade, conforme o projeto de nacionalização do governo varguista, por outro lado, ela traz a injunção ao esquecimento da língua materna dos imigrantes. Portanto, a interdição oficial durante o Estado Novo traz consequências para a vida dos imigrantes e interfere diretamente nas suas práticas sociais diárias e essa interdição ainda hoje ecoa na memória social desse grupo. Neste sentido, na terceira parte da nossa pesquisa, mostramos que apesar do esforço e da implementação jurídica do Estado terem buscado uma homogeneização cultural, baseada em uma única língua para os vários povos em solo brasileiro, a língua materna dos imigrantes sobreviveu à proibição e continua viva nas práticas sociais no espaço privado familiar, em algumas comunidades do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma língua típica dessas comunidades, a mistura do dialeto alemão com a língua Portuguesa: a Sprachmischung. Essa sobrevivência nos mostra que, mesmo depois de quase dois séculos desde o início da imigração alemã e a tentativa das práticas políticas do governo varguista de apagar esse sentimento de pertencimento, permanece a construção imaginária de alguns filhos de imigrantes de terceira e/ou quarta geração de se identificarem como sujeitos alemães-brasileiros. Neste viés, ao trabalharmos com questões pertinentes ao imaginário de identidade dos imigrantes e descendentes alemães e o modo como eles se reconhecem, temos observado a sua relação com a língua Alemã, sua história e sua memória, lembrando que isso também implica mobilizar uma série de questões políticas, posições ideológicas, exclusão social e objetos simbólicos envolvidos e, principalmente, implica dar voz aos discursos dos imigrantes.

ASSUNTO(S)

análise do discurso estudos da linguagem teorias do texto teoria do discurso identidade social memória cultural imigrantes alemães linguagem e história imaginário formação social formação discursiva rio grande do sul

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