Construção narrativa e campo de ficção : uma forma de pensar a clínica psicanalítica

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

16/09/2011

RESUMO

Esta investigação surgiu da necessidade de encontrar subsídios teóricos e conceituais para determinadas experiências clínicas vividas com alguns pacientes que foram denominadas de construções narrativas. A partir de três experiências clinicas, a pesquisa se constituiu, gerando a hipótese de que o setting no atendimento de pacientes graves configura-se por meio da abertura de um campo de ficção e a interpretação pode se dar através da construção narrativa. Estas experiências clínicas foram sendo tecidas e re-tecidas no decorrer do desenvolvimento da pesquisa, de forma que ao final se configuraram tanto como causa quanto como produto da investigação, assim a construção da dissertação se deu no après-coup. Inicialmente, foi retomado o caso Schreber de Freud que apesar de não ser um tratamento, configura-se como uma análise de uma obra ficcional/paciente grave por meio de uma construção narrativa; o texto freudiano. Com a exploração deste caso freudiano, procurou-se apreender o método psicanalítico em ação, tal como compreendido pela Teoria dos Campos resultando na aproximação entre construções narrativas e delírio. A investigação do caso Schreber desdobrou-se em outra onde foi considerado o lugar e a economia psíquica com que Freud tratou as criações imaginárias no transcorrer de produção de seu conhecimento. Frente a esse levantamento, foi considerada a relação de duplo e alteridade existente entre Psicanálise e Literatura e o caráter ficcional do método Psicanalítico. Aproximações cabíveis entre a Literatura e a Psicanálise foram consideradas em vários aspectos: na forma de construção dos seus saberes sobre o ser humano, no uso comum do poder da palavra, da narração e da imaginação e finalmente o compartilhamento de um mesmo momento histórico. Nesse sentido, as teorias de Walter Benjamin tornaramse ferramentas-ideias indispensáveis para que fossem articulados: modernidade, romantismo, crise da narrativa, surgimento da psicanálise, rememoração ou salvação do passado, dimensão social do sujeito, arte de narrar e construção de histórias ou fabulação. Ao final dessas considerações adentrando na função da crença, tal como definida por Fabio Herrmann, chegamos ao objeto imaginário. Diante disso, consideramos mais particularmente o conceito de fantasia para Freud, Lacan, Herrmann e também retomamos o conceito de espaço potencial de Winnicott com o intuito de mergulharmos nos alicerces da construção narrativa. A partir da reedição daquelas experiências clinicas, foram possíveis as seguintes articulações: o setting - enquanto aquilo que circunscreve a transferência protegendo-a da interferência da realidade rotineira - nasce junto com o atendimento por meio da identificação analista-paciente e exige ser constantemente reconstruído por motivos advindos do próprio desenvolvimento do tratamento. No caso de pacientes graves, a construção do setting demanda sobrevivência psíquica do analista frente à necessária identificação com uma espécie de fragmentação e/ou enrijecimento psíquico. Essa sobrevivência que gera condição de espera e possibilita a construção do setting, pela destinação que tive na clínica constituída nesta investigação, foi possível por meio da incursão no universo literário/ficcional.

ASSUNTO(S)

construção narrativa setting campo de ficção literatura psicologia psicologia aplicada psicanálise narrative construction setting the field of fiction literature

Documentos Relacionados