Competição de gramáticas do português na escrita catarinense dos séculos 19 e 20

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Descrevo e analiso, nesta tese, os padrões empíricos de ordenação de clíticos na escrita catarinense. Os dados analisados são orações finitas não-dependentes com verbos simples e estruturas verbais complexas extraídas de vinte e quatro peças de teatro escritas por brasileiros nascidos no litoral de Santa Catarina, nos séculos 19 e 20. A hipótese que defendo é a de que a escrita catarinense (no cenário da escrita brasileira) reflete um processo de mudança sintática que pode ser interpretado como a competição de diferentes gramáticas, no sentido empregado por Anthony Kroch, em Reflexes of Grammar in Patterns of Language Change (1989). No que se refere às construções em que a variação próclise (clV)/ênclise (Vcl) é atestada em orações finitas não-dependentes, os resultados estatísticos evidenciam um aumento (progressivo) nas taxas de clV em contextos V1 e em contextos X(X)V em que X é antecedido por um sujeito, um advérbio não-modal ou um sintagma preposicional - não-focalizados. Enquanto em textos de autores nascidos no século 20 a próclise em orações com sujeitos pré-verbais é categórica, em textos de autores nascidos no século 19 está correlacionada à natureza dos sujeitos pré-verbais: a próclise nesse contexto é mais recorrente em orações com sujeitos pronominais pessoais, e não o é em orações com sujeitos DPs simples. Referentemente ao padrão de ordenação em complexos verbais, há um aumento (também progressivo) da próclise ao verbo não-finito. Na escrita de autores nascidos no século 19, encontro padrões aparentemente instanciados pela gramática do Português Clássico (PC): construções DPclV e construções XclV com percentagens variáveis e inferiores a 50% e construções com interpolação de "não" e/ou do pronome pessoal "eu". Paradoxalmente, encontro, nesses mesmos textos, padrões instanciados pela gramática do Português Brasileiro (PB) - próclise a V1 e próclise ao verbo não-finito em complexos verbais - e o padrão enclítico instanciado pela gramática do Português Europeu (PE). Com base nos resultados empíricos descritos e analisados, defendo que a ordenação de clíticos na escrita catarinense reflete um caso complexo de competição de três gramáticas do português: PC, PB e PE

ASSUNTO(S)

linguistica linguistica língua portuguesa - verbos lingua portuguesa - santa catarina - gramática escrita

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