Comparação da adequação das indicações de cinecoronariografias diagnósticas eletivas entre os sistemas de saúde público e privado no estado de Minas Gerais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Introdução: A doença isquêmica do coração é uma das principais causas de morte no mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que o número global de mortes por doença arterial coronariana aumentará de 7,1 milhões em 2002, para 11,1 milhões em 2020. Como conseqüência deste aumento e do desenvolvimento tecnológico, houve um crescimento sem precedentes no número de exames cardiológicos diagnósticos e terapêuticos nas últimas duas décadas. Entre estes, destacam-se a cinecoronariografia diagnóstica e a angioplastia coronariana. Sociedades de classe como a American Heart Association, American College of Cardiology e a Sociedade Brasileira de Cardiologia, desenvolveram diretrizes para a indicação da cinecoronariografia diagnóstica eletiva. Em que pese o reconhecimento da importância destas diretrizes, não se sabe exatamente se as mesmas estão sendo seguidas ou utilizadas corretamente. Objetivos: Comparar a adequação da indicação de cinecoronariografias diagnósticas eletivas entre os sistemas de saúde público (Sistema Único de Saúde) e privado (cooperativa de trabalho médico) no Estado de Minas Gerais. Casuística e Métodos: A população de estudo constituiu-se de pacientes maiores de dezoito anos, de ambos os sexos, portadores de angina de peito estável, dor torácica inespecífica ou assintomáticos, oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS) e de uma cooperativa de trabalho médico de Belo Horizonte que realizaram cinecoronariografia diagnóstica eletiva. O tamanho da amostra calculado foi de 424 pacientes, sendo 126 da cooperativa médica e 298 do SUS. Os pacientes foram identificados de forma não aleatória e entrevistados no dia da realização da cinecoronariografia em oito hospitais da região metropolitana de Belo Horizonte. Através de entrevista inicial selecionavam-se aqueles que preenchiam os critérios de elegibilidade aos quais era apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A identificação, as características e os dados antropométricos dos pacientes compreenderam nome, endereço, município de origem, telefone, estado civil, sexo, data de nascimento, idade, profissão, peso (em quilogramas) e altura (em metros). Foram analisados os fatores de risco para doença arterial coronariana (hipertensão arterial sistêmica, hiperlipidemia, tabagismo, diabete melito, história familiar para doença arterial coronariana, sedentarismo e obesidade), a indicação médica da cinecoronariografia, dados da história clínica atual e pregressa, resultados de testes cardiológicos não-invasivos e da cinecoronariografia. Doença arterial coronariana (DAC) obstrutiva foi definida como redução ³ 50% do diâmetro de pelo menos um segmento de uma das artérias epicárdicas maiores ou do tronco principal da artéria coronária esquerda. A alocação da indicação da cinecoronariografia nas classes I, IIa, IIb e III foi realizada por dois cardiologistas independentes e por algoritmo de computador, de acordo com as diretrizes da American Heart Association, American College of Cardiology e da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Esta alocação foi considerada como adequada para os pacientes incluídos nas classes I e IIa, duvidosa para aqueles na classe IIb e 17 inadequada para os da classe III. Os dados foram analisados nos Softwares Epi- Info 6.0 (CDC, Atlanta, GA) e Stata 7.0 (Stata Corporation, College Station, TX). Considerações éticas: O projeto deste trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e pelas Comissões de Ética de todas as instituições envolvidas. Resultados: Foram avaliados 466 pacientes, sendo 321 (68,9%) do SUS e 145 (31,1%) da cooperativa medica. Os pacientes do SUS eram mais jovens e na cooperativa médica predominou o sexo feminino. Houve diferença com significância estatística e maior prevalência de hipertensão arterial (OR 2,39; IC 95% 1,49 a 3,82; p<0,01) e sedentarismo (OR18,6; IC95% 11,0 a 31,4; p<0,01) nos pacientes do SUS. Em relação à indicação da coronariografia, observou-se no SUS, maior proporção de pacientes com angina de peito estável (OR 2,37; IC 95%1,54 a 3,63; p<0,01) e dor torácica inespecífica (OR 2,07; IC 95%1,24 a 3,47; p<0,01) e menor proporção de pacientes assintomáticos (OR 0,17; IC 95% 0,10 a 0,28; p<0,001). O percentual de pacientes alocados nas classes I e IIa foi de 32,1% e 35,9%, na classe IIb 65,4% (OR 2,26; IC 1,49 a 3,45; p<0,01) e 45,5% e na classe III 2,5% (OR 0,11; IC 0,05 a 0,07; p<0,01) e 18,6% respectivamente no SUS e na cooperativa médica. Não se detectou DAC obstrutiva em 60,7% dos pacientes do SUS e em 60,0% da cooperativa médica. Em ambos sistemas de saúde pequeno percentual de pacientes realizou testes cardiológicos não-invasivos de alta sensibilidade e especificidade para detecção de doença arterial coronariana. Conclusão: Verificou-se que 67,9% e 64,1% das coronariografias realizadas respectivamente no SUS e na cooperativa médica foram alocadas nas classes IIb e III e não se detectou DAC obstrutiva em 60,7% dos pacientes do sistema de saúde público e em 60,0% dos pacientes do sistema privado . Os testes cardiológicos não invasivos de alta sensibilidade e especificidade para detecção de DAC foram realizados em pequeno número de pacientes. Estes dados indicam que as diretrizes da American Heart Association, American College of Cardiology e da Sociedade Brasileira de Cardiologia não estão sendo adequadamente seguidas nos sistemas de saúde publico e privado em Minas Gerais.

ASSUNTO(S)

sistema Único de saúde decs diretrizes para a prática clínica decs catetrismo cardíaco/utilização decs sistemas pré-pagos de saúde decs angiografia coronária/utilização decs cineangiografia/utilização decs

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