Como trabalhar o desenvolvimento neuropsicomotor em crianças com microcefalia?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Sergipe

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

O desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) em crianças com microcefalia deve ser acompanhado e monitorado através de um programa de estimulação precoce. A estimulação precoce de bebês nascidos com microcefalia promove a harmonia do desenvolvimento entre vários sistemas orgânicos funcionais (áreas: motora, sensorial, perceptiva, proprioceptiva, linguística, cognitiva, emocional e social) dependentes ou não da maturação do Sistema Nervoso Central (1).

A microcefalia relacionada ao vírus Zika é uma doença nova, que está sendo descrita pela primeira vez na história, com base no surto que está ocorrendo no Brasil. Caracteriza-se pela ocorrência de microcefalia com ou sem outras alterações no Sistema Nervoso Central (SNC) em crianças cuja mãe tenha histórico de infecção pelo vírus Zika na gestação (2).

É sabido que, em geral, recém-nascidos com microcefalia apresentam alterações no DNPM. Recomenda-se, portanto, a monitorização precoce dos sinais de atraso do desenvolvimento neuropsicomotor destas crianças para que tratamentos de suporte sejam iniciados o mais rápido possível, e para que esforços no campo da reabilitação sejam garantidos, quando necessários (1).

A estimulação precoce pode ser definida como um programa de acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e com crianças pequenas acometidas por patologias orgânicas – entre as quais, a microcefalia –, buscando o melhor desenvolvimento possível, por meio da redução de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, bem como de efeitos na aquisição da linguagem, na socialização e na estruturação subjetiva, podendo contribuir, inclusive, na estruturação do vínculo mãe/bebê e na compreensão e no acolhimento familiar dessas crianças (1,3).

Qualquer programa de estimulação do desenvolvimento da criança deve ter seu início tão logo o bebê esteja clinicamente estável e se estender até os três anos de idade. Os primeiros anos de vida têm sido considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. É neste período que ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central sendo a fase ótima da plasticidade neuronal. Tanto a plasticidade quanto a maturação dependem da estimulação. A estimulação precoce tem como meta, portanto, aproveitar este período crítico para estimular a criança a ampliar suas competências, tendo como referência os marcos do desenvolvimento típico (1).

É imprescindível o envolvimento dos pais e familiares no programa de estimulação precoce, considerando que o ambiente social é o mais rico em estímulos para a criança. A equipe deve informar a família sobre o problema e seus desdobramentos, orientando-os a utilizar momentos como o banho, vestuário, alimentação, autocuidado e, principalmente, as brincadeiras para estimular (3).

Vários estudos afirmam que os resultados de uma estimulação precoce são mais contundentes a partir do envolvimento e participação ativa da família, o que otimiza efeitos no desenvolvimento infantil. Para isso é preciso levar em consideração valores e aspectos culturais de cada núcleo familiar, além de promover uma aprendizagem colaborativa pautada no oferecimento de oportunidades à família: oportunidade de descobrir o que quer e o que precisa para atingir seus objetivos; oportunidade para reconhecer o que já sabem e podem fazer e de descobrirem o que ainda precisam aprender; oportunidade de participar na seleção e na utilização de métodos de avaliação e de intervenção com suas crianças (3).

Efetivar a participação dos pais passa também por ações para estabelecer objetivos da estimulação precoce junto com a família, planejar intervenções, realizar aconselhamentos, ofertar apoio social e encorajamento aos cuidadores, de modo que percebam o sucesso do tratamento como conquistas de suas iniciativas e esforços (1).

Se for assim, o trabalho dos profissionais que atuam em Programas de Estimulação Precoce é bem mais abrangente do que, simplesmente, orientar os pais sobre como proceder com o bebê e as crianças pequenas. Além disso, e por fim, a falta de estimulação precoce nos casos de agravos do DNPM, ou encaminhamento tardio, podem limitar o potencial de desenvolvimento global da criança, situação que, dentro do possível, precisa ser evitada (1).

Todos os bebês com confirmação de microcefalia devem manter as consultas de puericultura na Atenção Básica, para acompanhar e monitorar o crescimento e estado nutricional, evolução e aquisições dos marcos neuromotores e linguísticos, funções cognitivas e habilidades socioafetivas próprias da idade (1). Além de acompanhados por meio da puericultura, também devem ser encaminhados para estimulação precoce em serviço de reabilitação definido pela Secretaria de Saúde do município, de acordo com as pactuações de fluxo realizadas junto à Secretaria Estadual de Saúde (3).

Como os recém-nascidos podem apresentar alterações ou complicações específicas (neurológicas, motoras ou respiratórias, entre outras), o acompanhamento por diferentes especialistas em ambulatórios de especialidades será necessário, caso seja confirmado o comprometimento de funções. A vinculação com a Unidade Básica de Saúde é fundamental para este acompanhamento, mesmo que a criança necessite ser acompanhada em serviço especializado. O atendimento na Atenção Básica e na Atenção Especializada, de forma compartilhada, permite que a UBS monitore a adesão e os resultados do tratamento, e faz com que essas crianças sejam mais bem assistidas e as famílias melhor amparadas (1,3).

O acolhimento e o cuidado a essas crianças e a suas famílias são essenciais para que se conquiste o maior ganho funcional possível nos primeiros anos de vida, fase em que, como dito anteriormente, a formação de habilidades primordiais e a plasticidade neuronal estão fortemente presentes, proporcionando amplitude e flexibilidade para progressão do desenvolvimento nas áreas motoras, cognitiva e de linguagem (1).

Como ação do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, lançado pelo Governo Federal em dezembro de 2015, foi elaborado o documento

,  com o objetivo de ajudar os profissionais da Atenção à Saúde no trabalho de estimulação precoce às crianças de zero a 3 anos de idade com microcefalia (1).

ASSUNTO(S)

saúde da criança enfermeiro n85 malformações congênitas anormalidades congênitas criança desempenho psicomotor desenvolvimento infantil lactente microcefalia recém-nascido d - opinião desprovida de avaliação crítica/baseada em consensos/estudos fisiológicos/modelos animais enfermeria

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