Colonialismo interno e a disciplina da literatura comparada no Irão

AUTOR(ES)
FONTE

Rev. Bras. Lit. Comp.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2021-08

RESUMO

Resumo Este ensaio estuda aspectos da história corrente e do futuro estatuto da disciplina Literatura Comparada no Irã. Compara as normas teóricas da Literatura Comparada contemporânea à noção perso-islâmica pré-moderna de “Comparação,” que havia sido teorizada no Iran e no Mundo Árabe como fundamento dos estudos em literaturas comparadas árabe, islâmica e iraniana. O artigo realça a profundidade do centrismo perso-xiita institucional no cânone acadêmico iraniano e mostra de que modo a disciplina da Literatura Comparada tem sido usada como veículo para o transnacionalismo deste centrismo perso-xiita, manifesto em “Mundo do Persianato” no contexto dos estudos acadêmicos europeu e norte-americano. O neologismo “Persianato” criado por Marshall Hodgson nos anos de 1960, tem sido situado junto ao paradigma inaugurado pela virada linguística e cultural dos anos 1970, dos Estudos Pós-Coloniais que emergem em fins de 1990 a partir do Orientalismo de Said, e à formulação de Sheldon Pollock da “Cosmópolis do sânscrito” no século XXI. O artigo demonstra como os comparatistas do Persianato, sob a bandeira dos Estudos Pós-Coloniais, não somente apagaram a experiência dos subalternos internos e colonizados não-persas do Irã em favor da de Estados do Oriente Médio, numa matriz binária (imperialismo ocidental versus um mundo islâmico “colonizado”), como também apresentam uma imagem daquela disciplina igualmente irreal e exagerada aos leitores ocidentais. O artigo mapeia ademais as discussões desenroladas no âmbito dos Estudos Pós-coloniais do Oriente Médio sobre “colonialismo interno”, como ferramenta analítica para se pensar a respeito das operações e dos entrelaçamentos de sistemas de poder no Oriente Médio e estrangeiro, aplicada aqui pela primeira vez à disciplina da Literatura Comparada.

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