Cheias de graça: gestação e sentimento de plenitude espiritual - a experiência místico-religiosa na gestação, parto e maternidade em dois grupos de mulheres

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este trabalho investiga o sentido místico e religioso da gestação, parto e puerpério em dois grupos distintos de mulheres: a) mulheres cuja gravidez significa adversidade em sua história pessoal; e b) mulheres cuja gravidez é sinônimo de realização pessoal. Os objetivos do estudo são: compreender de que modo estes processos da maternidade são compreendidos pela mulher e como são elaborados psicologicamente a partir da transformação do corpo presente na reprodução; observar a existência de elementos místicos e simbólicos neste universo; analisar o significado profundo dos elementos manifestados e as possíveis diferenças da experiência mística, simbólica e religiosa nos dois grupos; e observar possíveis alterações da consciência a partir da experiência gestacional quando vivenciada como experiência de Deus na vida da mulher. Decorrendo da hipótese de que existe uma experiência de transcendência dentro da experiência imanente e natural de reprodução que amplia a consciência da mulher, expandindo seu sentido existencial e que constitui a gestação, o parto e o puerpério como vivência psicológica de uma experiência arquetípica esta pesquisa analisou o discurso e os desenhos de 25 mulheres sobre a própria gestação, parto e puerpério, concedidos por elas enquanto vivenciavam estas condições. Foram acompanhadas 14 mulheres abrigadas no Amparo Maternal instituição de caridade que abriga gestantes e parturientes abandonadas e sem recursos individuais de sobrevivência e 11 mulheres que desejaram/planejaram a gravidez e que apresentam alguma estrutura social favorável a esta condição, encaminhadas à pesquisa por profissionais da saúde. Para trabalhar as hipóteses nesta amostra foram utilizados três instrumentos: entrevista, questionário de experiência mística na maternidade (baseado em Hood, Valle, Allport-Ross e Hardy) e técnica projetiva do desenho (com o tema ser mãe). Com o material colhido foram realizadas análises quantitativas, qualitativas e comparativas entre os métodos e nos dois grupos, utilizando referencial teórico da Psicologia Social sobretudo Vergote, Paiva e Valle da Psicologia Junguiana Campbell, Neumann, Chevalier-Gheerbrant e da Psicologia da Gravidez com Maldonado, Harding e Hrdy. Os resultados demonstram que há um significado arquetípico na experiência da maternidade vivida na gestação, parto e puerpério, que aponta para uma experiência mística, significando crescimento e evolução para a mulher, bem como acréscimo de respeitabilidade a si mesma mesmo quando em condições sociais e econômicas adversas. Em nível profundo, os processos observados revelaram-se agentes promotores do processo de individuação, bem como elementos de emancipação espiritual para a mulher. Em nível consciente, a maternidade apresentou-se em ambos os grupos como vivência profunda de Deus e como desencadeadora de experiências místicas para a mulher, não tendo sido observadas diferenças consideráveis entre os grupos neste aspecto. Contudo, na análise comparativa observaram-se diferenças pontuais quanto ao sentido da experiência mística mais freqüente em cada grupo, com uma maior repetição de significado de Benção, Medo, Rejeição, Culpa, Redenção, Conversão e Santidade para o grupo A; e de Santidade, Crescimento Espiritual, Benção e Poder para o grupo B

ASSUNTO(S)

outras sociologias especificas individuação religion gestação mystic gravidez -- aspectos religiosos maternidade -- aspectos religiosos mística parto (obstetricia) -- aspectos religiosos psicologia e religiao pregnancy and individuation motherhood religião

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