Cartografia das resistências: uma análise antropológica do pavilhão oito da casa de detenção de São Paulo

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

As prisões existem para segregar e esconder os indivíduos da sociedade sob o pretexto de reeduca-los, visando não mais punir seu corpo, mas sua alma. Assim, o criminoso ao ser encarcerado tem suas vidas reterritorializadas e ressignificadas a partir das tecnologias de poder disciplinar - poder que se aplica singularmente aos corpos pelas técnicas de vigilância, pelas punições normalizadoras, pela organização panóptica das instituições punitivas -, e ao biopoder - poder que se aplica globalmente a uma população, à vida dos seres vivos, ao "homem biológico", possibilitando ao Estado o poder de "fazer viver e deixar morrer". Entretanto como resistência às essas estratégias de poder, os detentos criam normas, regras e costumes, que denominamos de códigos consensuais. A batalha entre as várias partes componentes do pavilhão(detentos, agentes penitenciários e profissionais liberais), gera uma sociabilidade baseada na guerra entre as partes. As estratégias serão o Racismo de Estado pelo lado dos funcionários; e o código consensual dos detentos, os quais podem ser vislumbrados no interior da Casa de Detenção de São Paulo, mais especificamente no Pavilhão Oito(espaço que recebe criminosos reincidentes). O jogo político entre as partes envolvidas com o Pavilhão Oito, gerará uma hierarquização dos detentos e a formação de redes de corrupção, invertendo as polaridades pela criação de organizações criminosas, que não só terá a participação dos detentos privilegiados, mas também quem deveria reeduca-los. O PCC(primeiro Comando da Capital), facção que derrotou outras células criminosas no interior do Oito, terá o pavilhão como espaço de ampliação de seus negócios, forçando os detentos que não querem participar do "partido" e cooptando os detentos enfraquecidos pelo código consensual a engrossarem suas fileiras. Seus detentos negociadores utilizarão cada vez mais de pressão violenta contra as autoridades superiores do diagrama estatal, através de rebeliões, seqüestros, extorsões, tudo feito de maneira espetacular usando a presença da mídia para colocar em descrédito o Estado perante a sociedade civil e alimentar as práticas criminosas. Ao mesmo tempo a reação do Estado, além de não combater objetivamente as facções, credenciam-na perante a massa carcerária, criando detentos cada vez mais ferozes para o jogo político criando um circulo vicioso

ASSUNTO(S)

casa de detencao de sao paulo pavilhao oito jogo politico ciencias sociais aplicadas prisao

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