Caos e pÃs-modernidade na cultura pernambucana: a estÃtica do mangue

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

Buscando explicitar as bases econÃmicas, sociais e polÃticas do que veio a denominar-se âmovimento mangueâ, a presente monografia caminhou no sentido de fazer um estudo interdisciplinar, concretando ao final uma pesquisa plÃstica. Com vistas, mostrar os liames profundos que unem o universo do fazer artÃstico Ãs relaÃÃes da sociedade pernambucana, deu-se Ãnfase ao perÃodo que vai de 1990 à 2000. Nesta perspectiva, explicitamos, ao longo do texto, certas referÃncias simbÃlicas arquetÃpicas de âhomem, natureza e culturaâ do universo imaginÃrio nordestino, tais como, âresistÃncia, fome, seca e pobrezaâ, que permeiam profundamente o discurso da cultura Mangue, marcado pela fusÃo do imaginÃrio do sertÃo com o imaginÃrio do litoral pernambucano. A partir de autores, tais como: Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Josuà de Castro, objetivamos melhor estudar e compreender o referido movimento cultural. AlÃm de buscar compreender criticamente o processo de pÃs-modernizaÃÃo da sociedade pernambucana, buscamos mostrar, principalmente atravÃs de dados estatÃsticos e recortes jornalÃsticos, a emergÃncia do referido movimento, enquanto representaÃÃo e identidade da cidade do Recife. Por fim, buscamos traÃar um quadro comparativo entre o presente movimento cultural e a questÃo do avanÃo da cidadania, buscando desta forma explicitar as linhas emancipatÃrias ou conservadoras presentes na cena social da cidade do Recife e do Estado de Pernambuco. Ao analisar o que veio a configurar-se como âMovimento Mangueâ, encontramos em sua gÃnese pensadores, tais como Euclides da Cunha (1866-1909), que em sua obra os sertÃes descreve a base natural e cultural sobre a qual repousa a representaÃÃo do homem nordestino, principalmente do interior. Nos capÃtulos que compÃem a referida obra, encontramos a dialÃtica entre o sul do Brasil âmodernoâ e o nordeste âarcaicoâ nas figuras emblemÃticas de uma luta entre o sul republicano, industrial e positivista e o nordeste agrÃrio, arcaico e messiÃnico. A nÃvel da esfera mais Ãntima desta dialÃtica, encontramos a figura dos polÃticos/coronÃis/jagunÃos e latifÃndios x a figura do povo desapropriado, mÃstico e violento. O binÃmio contraditÃrio âPobreza e Riquezaâ, no Ãmbito pernambucano, à explicitado na luta entre um interior estadual abandonado à pobreza e à violÃncia de suas polÃticas internas, x a faixa litorÃnea detentora do poder decisÃrio e da riqueza, marcado pela violÃncia do trabalho escravo. Seria ingÃnuo de nossa parte destacarmos tais expressÃes concreto-simbÃlicas do jogo de interesses e influÃncias que o capitalismo (Marx e Engels, 1845), jà mundializado, exercia no desenvolvimento do universo brasileiro e nordestino. O atual momento cultural pernambucano serÃ, pois, um dos pontos de culminÃncia mais crÃtico do projeto de pÃs-modernizaÃÃo brasileiro, em sua seÃÃo nordestina, onde a paulatina falÃncia do processo agro-industrial levarà o Estado a direcionar seus investimentos para o setor terciÃrio (serviÃos e turismo) como forma de suprimir suas carÃncias sÃcioeconÃmicas de sobrevivÃncia. Este estado de âpÃs-modernidadeâ (Vide Josuà de Castro, Fome um Tema Proibido e Chico Science, da Lama ao Caos, do Caos à Lama) trarà em si a implantaÃÃo superficial das novas tecnologias na administraÃÃo polÃtica, na produÃÃo econÃmica e na vida cotidiana da sociedade, aliando mais uma vez, devido aos mecanismos histÃricos de concentraÃÃo de riqueza, o desenvolvimento à pobreza. Nossa hipÃtese de pesquisa à que a emergÃncia da âCultura Mangueâ se afirmarà como resposta e resistÃncia à desconstruÃÃo polÃtico-econÃmica e social pela qual tem passado o Estado de Pernambuco. Dando-se Ãnfase, do inÃcio ao fim desta dissertaÃÃo, à âvida comumâ como expressÃo âpar excellenceâ do referido movimento artÃstico cultural, tentou-se desta forma desmistificar o processo do âfazer artÃsticoâ, da âobra de arteâ e do âartistaâ, como algo excepcional. Nesta perspectiva, o viver ou sobreviver cotidiano à a base e sÃntese da obra de arte em essÃncia. Por fim, conectando o nÃvel da hermenÃutica histÃrica, buscou-se explicitar a complexidade das mudanÃas sociais, polÃticas e econÃmicas pelas quais tem passado o Estado de Pernambuco, com o seu atual momento simbÃlico-cultural, tentando apresentar, de uma forma mais abrangente, a sociedade pernambucana. Admitimos, finalmente, que, uma vez explicitada a hipÃtese da existÃncia de uma estÃtica particular presidindo a dimensÃo cultural da sociedade pernambucana, afirmamos, que esse mesmo olhar mostra-se mais como um recorte ou leitura sobre a realidade, nÃo pretendendo de forma alguma esgotar a infinidade e vastidÃo do assunto, servindo apenas como mais uma abertura e subsÃdio ao debate e a melhor compreensÃo da atual realidade pernambucana

ASSUNTO(S)

movimentos sociais pernambuco teoria literaria movimento mangue artes

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