Bóias-frias e a mecanização nas usinas de açúcar e álcool no oeste paulista - de 1960-2000

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

A década de 60 caracterizou-se como um marco histórico no processo de transformações do setor agrícola do país. Seguiram-se tensões no setor canavieiro, sobretudo após a criação do Estatuto do Trabalhador Rural, visto como fator de desencadeamento de conflitos no campo. Esta pesquisa aborda os desdobramentos da implantação da mecanização nos campos das usinas Nova América e Maracaí, alocadas nas cidades de Tarumã e Maracaí, próximas ao município de Assis-SP (Oeste do Estado). Desdobramentos estes que se dão ao analisar-se o desemprego; os movimentos reivindicatórios de greves; as ações impetradas junto ao Ministério do Trabalho; a precariedade do transporte; os acidentes com trabalhadores no processo do corte da cana; as exigências dos usineiros no momento da contratação; as comemorações no final das colheitas na região em foco. Esses fatores são discutidos analisando-se os discursos contidos na imprensa (A Voz da Terra, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil), nos processos trabalhistas e nas falas dos trabalhadores, com objetivo de compreender as representações construídas acerca das empresas e do cotidiano desses trabalhadores rurais, no período de 1960 a 2000. O recurso à história oral enquanto fonte documental tornou-se indispensável para a compreensão do cotidiano dos bóias-frias, possibilitando refletir sobre a dualidade: experiências e representações. Os depoimentos permitiram ainda caracterizar os trabalhadores rurais, vistos na posição de agentes sociais, mostrando suas procedências, as especificidades de gênero, seus estigmas e representações frente ao processo de transformação no campo das usinas. As agro-indústrias figuram nesta pesquisa como lugares de tensões e poder, permitindo a compreensão de fluxos de exclusão dos trabalhadores rurais de suas atividades diárias no canavial, sinalizando para uma reflexão acerca do binômio trabalho/exclusão, conjugando-se em tramas de poder. O processo de exclusão a que os trabalhadores rurais foram e vem sendo submetidos confirma-se ao observar que as usinas, enquanto instituições de produção e gestoras de postos de trabalho, fecham as possibilidades de acesso dos trabalhadores rurais neste processo, uma vez que são substituídos pela mecanização. Uma ação coletiva em 1962 envolvendo trabalhadores da usina Nova América evidencia o embate entre os trabalhadores e os usineiros. As repercussões desse dissídio sinalizam a não-passividade dos trabalhadores, denotando suas insatisfações frente às situações de trabalho a que eram submetidos. A idéia de produção e lucro com o cultivo da cana-de-açúcar torna-se outra incógnita nesta trama, em que interesses se mesclam, desencadeando indagações acerca do presente e futuro dos trabalhadores rurais

ASSUNTO(S)

verbal history imprensa bóias-frias mechanization the press power bóias-frias história oral historia mecanização exclusão exclusion poder

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