Ato artístico e ato psicoterápico como Experiment-ação : diálogos entre a fenomenologia de Merleau-Ponty, a arte de Lygia Clark e a Gestalt-Terapia

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Esta tese discute o trabalho psicoterápico da gestalt-terapia. Tem como foco seu caráter de experimentação, buscando ampliar seu significado e seus fundamentos epistemológicos. Os experimentos gestálticos nasceram no contexto original da abordagem. Instituíram a experiência como forma de ampliação da consciência, atendendo a uma mudança paradigmática que pretendia oferecer uma compreensão da vivência humana a partir da visão organísmica e holística. A partir de um diálogo com a fenomenologia de Merleau-Ponty e com a arte de Lygia Clark, o trabalho pretende ampliar a fundamentação fenomenológica da experimentação. O filósofo dedicou sua obra ao tema das relações entre homem e mundo, buscando uma compreensão que partia do mundo da experiência, de um a priori da correlação sujeito-objeto. Situou o corpo como consciência e desenvolveu um viés de pensamento que desembocou em uma ontologia do Ser. Este trabalho desenvolve um recorte das propostas merleau-pontyanas e as coloca em diálogo com as noções de campo organismo-ambiente, ajustamento criativo e agressão. Lygia Clark partiu da vocação da arte moderna de unir arte e vida e desenvolveu um trabalho peculiar fundamentado na transformação do espaço em espaço-tempo, inserindo o público no contexto da obra e propondo a experimentação como forma de acesso à totalidade. Suas obras envolviam as pessoas em um processo vivencial, se colocando como um campo de experiência. Este trabalho discute sua trajetória e aponta para a experiment-ação como ação intercorporal produtora de significados que permite a ressignificação da existência. Articula as noções de campo, corporeidade, forma e significação como dimensões constitutivas da experiment-ação. Sugere denominar a intervenção terapêutica como proposição, que visa a experiment-ação e tem como tarefa o desajustamento criativo. Este introduz na situação uma diferença que provoca a implicação corporal do cliente com a experiência imediata no contexto psicoterápico. Quando o cliente sente suporte na situação, a experiência tende a se desdobrar em uma ação agressiva e criativa produtora de significados que permitirão a ele ultrapassar o instituído e transgredir. Este trabalho conclui pela compreensão da psicoterapia como um campo de experiência estética que, como tal, não prescinde da corporeidade, é descentradora, produtora de significados e transgressora.

ASSUNTO(S)

corpo fenomenologia lygia clark gestalt-terapia psicoterapia psicologia corporeidade merleau-ponty

Documentos Relacionados