Aspectos epidemiológicos da malária no Parque Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil / Epidemiological features of malaria at Jau National Park, Amazonas, Brazil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Um estudo do tipo transversal foi realizado na área do Parque Nacional do Jaú (PNJ), estado do Amazonas, Brasil, para investigar o nível de endemicidade da área para malária, a prevalência e fatores associados à infecção por Plasmodium spp e apresentação clínica nos infectados. O PNJ tem uma população estável de caboclos ribeirinhos que habitam as margens dos rios Unini e Jaú. A malária tem transmissão sazonal, com picos no início da subida (fevereiro e março) e da descida (agosto e setembro) das águas fluviais. Cada visita à área de estudo teve duração aproximada de três meses e se deram em períodos intersazonais. A primeira ocorreu entre novembro de 2002 e janeiro de 2003 e, a segunda, entre maio e julho de 2003. Na primeira visita, dois cortes foram realizados com entrevista, exame físico e coleta de amostra de sangue, um na subida e outro na descida dos rios Unini e Jaú. Na segunda visita, um único corte foi realizado na subida do rio e, na descida, apenas se registrou surgimento de sintomas nos participantes. Durante o estudo foram avaliados: (a) história de exposição à malária, (b) presença de sintomas e esplenomegalia, (c) prevalência de infecção por Plasmodium spp detectada pela microscopia convencional e reação em cadeia de polimerase (PCR), (d) presença e níveis de anticorpos para Plasmodium falciparum e P.vivax por imunofluorescência indireta (IFI) com antígeno total e por ensaio imunoenzimático (ELISA) com antígenos recombinantes correspondentes ao fragmento C-terminal de 19kDa da proteina-1 de superfície de merozoitos (MSP119) de ambas as espécies. Foram ainda analisados os resultados de um levantamento preliminar da fauna anofélica. Foi estudado um total de 540 indivíduos (372 ribeirinhos do rio Unini e 168 do rio Jaú), com idade entre três meses e 77 anos, presentes em pelo menos um dos três cortes. Homens predominaram sobre mulheres (1,25:1). Setenta e sete por cento dos participantes referiram malária prévia (71,5% com confirmação laboratorial). O número de episódios anteriores variou de um a 31 (mediana=2). O índice esplênico em crianças de dois a nove anos de idade variou de 9,2 a 13,6% nos cortes realizados. A prevalência total de infecção foi de 14,4% (variação de 8,7 a 20,6% nos cortes realizados), tendo sido mais elevada nas comunidades do rio Unini (15,4%) do que nas do rio Jaú (10,3%), porém não significativamente (p=0,058). Mais de dois terços das infecções foram detectadas somente por PCR. P.vivax foi encontrado em 74,7% das infecções, P.falciparum em 26,6% e P.malariae em 0,3%. A prevalência de infecção diminuiu com a idade; quando comparados com adultos maiores de 30 anos, as prevalências foram 8,1, 6,1, 4,7 e 3,1 vezes maiores em indivíduos <1, 1-5, 6-10 e 11-20 anos, respectivamente. Esplenomegalia e anemia foram, respectivamente, 3,0 e 2,6 vezes mais prevalentes entre infectados, quando comparados com não infectados. De todos os infectados, 60,8% não apresentavam manifestação clínica. De 104 infectados inicialmente assintomáticos, 11 desenvolveram sintomas entre dois dias e cinco meses após o diagnóstico (oito deles, durante os primeiros 23 dias de seguimento). Apenas 22 infecções assintomáticas foram detectadas por microscopia convencional. A proporção de infecção assintomática : sintomática foi maior entre mulheres, independente da faixa etária e os infectados assintomáticos eram significativamente mais velhos (mediana de idade=10 anos) do que os sintomáticos (mediana de idade= 5 anos). Anticorpos IgG para P.vivax e P.falciparum foram detectados por IFI em 83,2% e 71,7% dos indivíduos, respectivamente, porém, as médias geométricas dos títulos foram baixas (72,5 e 54,6). A maioria dos indivíduos exibiu anticorpos IgG para PvMSP119 (67% na primeira e 64% na segunda viagem à área) e para PfMSP119 (52% e 51,7%, respectivamente). Níveis significativamente mais elevados de anticorpos anti-PvMSP119 foram detectados em indivíduos com infecção atual por P.vivax, quando comparados com não infectados, porém, não houve associação entre a presença e os níveis de anticorpos para ambos os antígenos e a presença ou ausência de sintomas. Os dados do estudo entomológico preliminar sugeriram que o An.darlingi é o principal vetor da malária no PNJ, com predomínio intradomiciliar e picos de atividade entre 18 e 23 horas. Esse padrão comportamental sugere o uso de mosquiteiros como possível medida de prevenção da malária na área. Outras medidas de controle podem ser: (a) telagem de, pelo menos, centros comunitários e escolas onde são ministradas aulas noturnas, (b) realização de exame microscópico em toda a população a despeito da presença de sintomas nas ocasiões de visita da FUNASA, (c)treinamento de agentes de saúde em microscopia para diagnóstico precoce e tratamento da malária.

ASSUNTO(S)

epidemiologia ecossistema amazônico parque nacional do jaú epidemiology malária jau national park ciências da saúde amazonian ecosystem malaria

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