As relações de poder entre o adulto dependente e a mulher-cuidadora
AUTOR(ES)
Ivone Pereira da Silva
DATA DE PUBLICAÇÃO
1995
RESUMO
Este estudo analisa, na cidade de São Paulo, as relações de gênero e poder entre cuidadoras-mulheres e pacientes acometidos pelo AV.C. (Acidente Vascular Cerebral) e que perderam sua independência. A investigação focalizou brevemente as políticas sociais, principalmente no que diz respeito ao idoso, demonstrando que estas desconsideram o processo da transição demográfica brasileira que nas últimas décadas vem alterando o perfil da estrutura etária do país, em função da diminuição nas taxas de fecundidade e de mortalidade e com o aumento da expectativa de vida. o processo de transição demográfica leva a uma alteração no perfil epidemiológico, pois as causas de morte atribuídas às doenças infecciosas e parasitárias, responsáveis por um coeficiente de mortalidade precoce, estão dando lugar às doenças crônico-degenerativas, que têm maior incidência na população idosa. No que se refere ao idoso dependente por AV.C., percebe-se que o Estado não é sensível ao problema, recaindo sobre a família a responsabilidade de cuidar do idoso incapacitado, arcando sozinha com todo o ônus, como se o cuidar não fosse objeto, também, do âmbito público. o estudo constatou que a figura do cuidador não existe para o Estado. Este não tem programas de atendimento domiciliar que garantam o atendimento aos pacientes que não conseguem chegar às unidades de saúde devido ao seu alto grau de dependência, e não vêm dando suporte aos familiares, através de apoio, orientação e treinamento, enquanto o idoso é mantido no meio familiar. o cuidado com o idoso dependente no Brasil é uma tarefa exercida majoritariamente por mulheres, papel esse que, historicamente, estas já vêm assumindo no interior da família. Demonstrou-se que cuidar de velhos e dependentes não é uma função "natural" da mulher, mas que é determinada pelo modo de organização social da sociedade brasileira, derrubando-se as concepções que associam o cuidar a uma condição biológica. Assim, à mulher é destinada o espaço doméstico e ao homem, o espaço público. Buscou-se apreender a experiência destas mulheres não de forma isolada, mas dando um caráter relacional à experiência de ambos os sexos. Capturou-se a relação entre os gêneros ( homem-mulher, mulher-mulher e homem-homem), entendendo-as como relações contraditórias. Cada ser humano é a história de suas relações sociais e portanto, o gênero, a classe social e a raça/etnia, são fundantes destas relações. Demonstrou-seque a relação entre cuidadora-paciente é marcada pelas desigualdades de gênero e portanto, são permeadas pelo poder. Constatou-se que mesmo quando a mulher se coloca numa relação subalterna, ora o poder é exercido pela cuidadora, ora é exercido pelo paciente. No entanto, as relações de poder não estão somente circunscritas às relações entre homens e mulheres, mas sim inscritas na esfera das relações sociais. Conclui-se que a atividade do cuidar se dá no espaço da família, mas não se limita ao espaço privado, pois necessariamente tem relação com o espaço público: através das relações de trabalho, do mercado, do Estado, das políticas sociais e das leis. Buscou-se, assim, apreender as relações de poder que se desenvolvem no interior da família, e se articulam dialeticamente com as relações de poder na sociedade
ASSUNTO(S)
acidente vascular cerebral idosos -- cuidados caseiros servico social dependencia do idoso
ACESSO AO ARTIGO
http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3697Documentos Relacionados
- De cuidadora a cuidada: quando a mulher vivencia o cancêr
- 9. O poder executivo paulista: relações entre a atividade legislativa e as coalizões de governo
- A recepção dos desenhos animados da TV e as relações entre a criança e o adulto: desencontros e encontros
- As relações entre saber e poder em testes psicodiagnósticos a partir de M. Foucault
- Relações de poder na dialética entre o lugar local e o lugar global