AS FEIRAS-LIVRES DE PELOTAS, RS: ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO SÓCIO-ECONÔMICA DE UM SISTEMA LOCAL DE COMERCIALIZAÇÃO. / The street markets of Pelotas, RS: A study about the socioeconomic dimension at a trading local system

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

A presente tese discute as feiras-livres, inserindo-as numa perspectiva de sistemas locais de comercialização, integrado(as) ao circuito inferior da economia urbana de países em processo de desenvolvimento, as quais vêem seu espaço ameaçado diante do avanço das grandes superfícies de varejo. Os objetivos perseguidos durante o desenvolvimento deste trabalho constaram da busca pela identificação dos elementos de persistência que proporcionam a continuidade das feiras-livres no espaço do comércio local. Na investigação empírica utilizou-se de uma estratégia inspirada no pluralismo metodológico, com o objetivo de obter-se uma compreensão mais abrangente do objeto de pesquisa. As técnicas de natureza quantitativa foram utilizadas para a apreensão dos dados numéricos, enquanto que para incursionarmos nos aspectos subjetivos, utilizamo-nos de técnicas de corte qualitativo. Explorou-se o objeto de estudo sob três grandes perspectivas de análise. A primeira delas é a da própria feira-livre, enquanto cenário no qual transcorrem as relações entre os atores sociais envolvidos e enquanto referência cultural da urbe pelotense. A segunda corresponde aos feirantes e a terceira aos consumidores, como protagonistas de um conjunto de relações não exclusivamente econômicas. Para efeito de melhor compreensão, classificou-se as feiras-livres em duas ordens, uma de natureza estritamente ecológica e a outra que para fins de referência denominamos como convencionais. Através da análise dos dados colhidos, constatou-se existirem diferenças significativas entre os dois espaços de varejo, iniciando-se pela natureza dos produtos. Em relação ao sistema de comercialização, enquanto a feira convencional funciona num sistema individualista, a ecológica funciona em sistema cooperativo. Os feirantes xxvi convencionais comercializam o produto sem um vinculo com a sua produção, no entanto, os feirantes ecológicos estão comprometidos com a produção do produto. Os consumidores também apresentaram um perfil muito diverso. Enquanto os consumidores convencionais, geralmente, são pessoas que, possuem um baixo rendimento familiar, baixo grau de escolaridade e moram nas proximidades do ponto de feira, os consumidores ecológicos, na sua maioria, possuem nível de renda mais elevado (médio-alto), nível de escolaridade superior ou pós-graduado e moram mais afastados do ponto de feira. No entanto, ambos foram unânimes em afirmar que a feira se torna um ponto mais atrativo em relação aos supermercados e fruteiras, em função da maior diversidade, o produto ser mais fresco, da dinâmica peculiar de negociação do preço e o atendimento personalizado, possibilitando manter-se uma relação bastante próxima com o feirante. Possivelmente estejam ai as chaves que permitem explicar a persistência das feiras-livres de Pelotas, algo que não sucede junto às modernas superfícies de varejo. Face ao aprofundamento do fenômeno de globalização, a viabilidade dos sistemas locais de comercialização parece estar na produção de especialidades e artigos diferenciados, a exemplo das feiras ecológicas e de produtos regionais, que apostem na conquista de uma nova consciência dos consumidores que transcenda a dimensão estritamente mercantil. No caso específico das feiraslivres, apesar do indiscutível peso dos fatores adversos, acredita-se, com base na realidade estudada, que estas são ainda capazes de persistir através do tempo. É possível avançar neste processo através de uma modernização parcial, que preserve as características mais importantes apontadas pelos consumidores, como a proximidade das relações, mas que ao mesmo tempo contemple certos aspectos da modernidade que beneficiam os consumidores, a exemplo da incorporação de certas facilidades compatíveis com os imperativos da sociedade atual.

ASSUNTO(S)

comércio local agronomia comércio local feiras-livres abastecimento urbano feiras-livres abastecimento urbano comercialização de alimentos sistemas agroalimentares comercialização de alimentos sistemas agroalimentares

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