Artefatos de Genero na arte de barro

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

Este é um estudo sobre gênero na produção artística de peças de cerâmica, em algumas comunidades de artesãos do Vale do Jequitinhonha, situado no Noroeste do Estado de Minas Gerais, Brasil. O Vale do Jequitinhonha é conhecido por manter uma forte tradição na Arte do Barro. Na região, tradicionalmente, apenas as mulheres chamadas "paneleiras" praticavam esse oficio que era transmitido de mãe para filha. Essa produção costumava ser vendida, ou trocada, nas feiras e mercados regionais. Nos anos 70 a Codevale, uma agência de desenvolvimento rural que atuava sob orientação do Governo brasileiro, contratou algumas dessas "paneleiras" para ensinar a arte da cerâmica e passou a comprar toda a produção dos artistas e a colocá-la no mercado mais amplo dos grandes centros urbanos. O desenvolvimento alterou o contexto no qual a arte do bano era produzida e vendida. O impacto se fez sentir, além de nos artefatos produzidos que passaram a incorporar elementos até então estranhos à cultura local, também nas relações sociais. Assim que a arte do barro se tornou uma fonte alternativa de renda, vários homens decidiram entrar para o ofício. Mas a tradição permanece e a arte do barro ainda é um ofício considerado feminino. A entrada de homens na arte do barro tem provocado reelaborações de no sistema simbólico de gênero. Através das histórias de vida dos ceramistas se pode detectar que no universo no qual eles vivem e interagem, a dicotomia masculino-feminino é uma metáfora de poder, de base sexual, para determinar lugares e capacidade de ação para homens e mulheres. Mas, mesmo em lugares assim vemos que essas metáforas não podem ser sobrepostas a homens e mulheres concretos. A vida cotidiana mostra que as pessoas se movimentam entre categorizações masculinizantes e feminilizantes. Aqueles que estão fazendo tal movimento são vistos como se suas ações não contivessem estereótipos de gênero, mas é justamente nesse ponto, onde o modelo de referência é mudado que se pode detectar gênero, não como corporificações fixas, mas como algo em permanente construção. Foi buscando sujeitos concretos, e também ações, artefatos, categorizações, ou seja, mantendo gênero com a referência sexual, mas desnaturalizando sexo que esta pesquisa procurou entender o modo através do qual o simbolismo de gênero estrutura conceitos e relações naquelas comunidades. Através do discurso dos ceramistas se pode observar que gênero funciona em ressonância com várias outras expressões que organizam as experiências diárias daquelas comunidades para produzir a sensibilidade na qual a arte do barro é formada. Como símbolos os artefatos de barro adquirem seus referentes na dinâmica das experiências cotidianas daquelas comunidades e nas experiências de seus criadores. Naqueles artefatos se pode ver que os corpos gendered são performativos, no sentido de que a identidade aparente deles são fabricações manufaturadas e sustentadas por símbolos que estão na superfície desses corpos, e por outros meios dicursivos. Apesar de transmitida por mulheres e ação feminina, a arte do barro tem incorporado valores de masculinidade, sendo que os homens ao se aproximarem de um ofício tradicionalmente feminino passaram a retirar dele recursos simbólicos de representação de masculinidade

ASSUNTO(S)

arte - cerâmica - jequitinhonha simbolismo teoria feminista rio vale (mg e ba)

Documentos Relacionados