Argumentação em salas de aula de biologia sobre a teoria sintética da evolução

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Esse trabalho discute ações que permeiam o discurso dos alunos quando inseridos em processos de ensino e de aprendizagem de ciências. O nosso foco é a argumentação de alunos do terceiro ano do ensino médio durante a discussão de questões sobre evolução, mais especificamente, relativas a aspectos da teoria sintética da evolução. Nossa principal questão de pesquisa foi: Como os alunos desenvolvem argumentos ao discutir questões sobre a teoria sintética da evolução? Essa questão se desdobra em outras questões mais específicas: (1) Que tipos de movimentos discursivos os alunos realizam na argumentação? (2) Que conceitos evolutivos os alunos mobilizam em seus argumentos? (3) Em que níveis epistêmicos de abstração os conceitos evolutivos são articulados nas justificações dos alunos? As discussões de questões relacionadas a aspectos da teoria sintética da evolução ocorreram em três turmas (A, B e C) após as unidades didáticas sobre evolução, lecionadas por seus respectivos professores. As unidades didáticas dessas três turmas também foram analisadas, de modo a examinarmos aspectos próprios a essas salas de aula, tais como: as características das escolas em que se deram as aulas; as dinâmicas desenvolvidas pelos professores para condução de suas aulas; os temas abordados por esses professores durante as aulas; algumas interações discursivas entre alunos e professores, como a autoria da iniciação dos episódios das aulas e o tipo de discurso de cada um deles; as formas como os alunos interferiam nas aulas, com ênfase nos conceitos e práticas epistêmicas que eles explicitavam em suas afirmações e questões que iniciavam episódios de conteúdo, bem como nos ajustes que tais interferências demandavam do professor. A maior compreensão desse conjunto de aspectos, que constituíram o contexto de cada turma, nos auxiliou a compreender os resultados de nossa análise da argumentação dos alunos dessas turmas. Os resultados desse trabalho mostram que os alunos das turmas A e C desenvolveram argumentos mais elaborados que os alunos da turma B. Esse resultado pode ser interpretado em termos de diferenças relevantes identificadas nos contextos das turmas A e C com relação ao contexto da turma B: nas turmas A e C, os alunos apresentaram um maior domínio dos conhecimentos conceituais de evolução, em comparação com a turma B. Esses alunos, em geral, articularam conceitos evolutivos de forma coerente, explorando diferentes níveis epistêmicos de abstração, ao trabalharem com aspectos teóricos e dados evolutivos. Já os alunos da turma B apresentaram dificuldades tanto com os conceitos evolutivos quanto com conceitos estudados em outras unidades didáticas e, mesmo, em outros anos escolares. As turmas A e C estavam em um mesmo colégio, com uma tradição mais voltada à investigação e foram lecionadas por professores doutores envolvidos com atividades de pesquisa. Já a turma B estudava em um colégio mais tradicional, em que a atitude investigativa dos alunos não era estimulada, sendo lecionada por uma professora que estava dando início à sua jornada na área investigativa. Além disso, os professores das turmas A e C limitaram as discussões de suas aulas ao âmbito dos conhecimentos da ciência, com os alunos respeitando tal delimitação. Isso não ocorreu na turma B, na qual, por mais que a professora tentasse avançar nos conceitos da unidade sobre evolução, os alunos interferiam na dinâmica das aulas levantando temas de ordem religiosa e fazendo constantes desafios à visão da ciência.

ASSUNTO(S)

educação teses biologia estudo e ensino argumentação evolução estudo e ensino

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