Apraxia construtiva subcortical : estudo comparativo com a apraxia construtiva cortical em lesões vasculares cerebrais

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

1999

RESUMO

Embasado no pressuposto da singularidade da apraxia construtiva dentro do universo dos distúrbios executivos, e de que na prática, a apraxia é caracterizada pelos tipos de erros de natureza executiva, foram exaustivamente estudados, 27 pacientes com lesão subcorticai de natureza vascular com enfoque na semiologia neuropsicológica da apraxia construtiva. Os achados semiológicos de 17 pacientes com lesão sub cortical à direita [10 homens (idade média: 45,4 anos; escolaridade média: 4,6 anos) e 7 mulheres (idade média: 49,8 anos; escolaridade média: 6,0 anos)] e dez è esquerda [6 homens (idade média: 57,8 anos, escolaridade média: 8,5 anos) e 4 mulheres (idade média: 54,5 anos; escolaridade média: 6,7 anos)} foram comparados com grupo contraste composto por dez pacientes apresentando lesão vascular isquêmica retrorroiândica à direita e à esquerda. A primeira avaliação neuropsicológica foi realizada após seis semanas do evento vascular inicial e posteriormente aos seis meses, um e dois anos quando possível. Essa sistemática visa estabelecer as repercussões dos distúrbios práxicos construtivos e outros sintomas e sinais neuropsicoíógicos na vida diária dos pacientes. O nível mínimo de escolaridade admitido no estudo foi de fés anos. Apenas um único paciente com lesão subcortical direita apresentava lateralidade homogênea a esquerda. A bateria neuropsicológica de testes construtivos (desenhos de complexidade crescente, figura complexa de Rey, cubos de Kohs, montagem de quebra-cabeça, teste visuomotor de Bender e construção com palitos) foi acrescida pelo estudo da memória visual (reprodução da figura complexa de Rey após período de distração e fase taquistoscópica do teste visuomotor de Bender), de testes visuoespaciais (complementação de figuras, dupla cabeça de bois, cancelamento de linhas e números), de detecção de agnosia visual (figuras hachuradas, discriminação figura/fundo e ordenamento de lâminas de histórias em quadrinhos), e do estudo do cálculo. Todos os pacientes foram enquadrados segundo a avaliação sociolinguística, a lateralidade e o nível de alerta/atenção. Os pacientes com lesão hemisférica esquerda foram ainda submetidos ao exame da linguagem pela aplicação do protocolo Toulouse-Montreal (versão standard inicial) e pela descrição da prancha n°i do protocolo de afasia de Goodglass &Kaplan. Os resultados da avaliação neuropsicológica foram comparados com a extensão da lesão anatômica peia neuroimagem (TC ou RNM) e ao atlas de correlação anatômica e vascular encefálica. Este estudo conclui que: l. a apraxia construtiva por lesão subcorticai, direita ou esquerda, expressa-se de maneira semelhante à observada nas lesões corticais retrorrolàndicas. A negligência ou inatenção visuoespacial freqüentemente se associa a apraxia construtiva na presença de lesão do hemisfério cerebral direito; 2. o desempenho neuropsicológico, semelhante nas lesões subcortícais e corticais, não permite estabelecer o nível da lesão anatômica tendo como base a avaliação neuropsicológica isolada A associação freqüente de distúrbio visuoespacial nas lesões hemisféricas à direita fala a favor do papel relevante deste hemisfério no sistema da atenção: 3. a imensidade dos sintomas e smais neuropsicológicos apresentam variabilidade interindividual e se expressam de maneira heterogênea em função do teste utilizado; 4. a observação dos achados do exame neuropsicológico nas lesões subcortícais serve de argumento para à concepção de que a especialização hemisférica se manifesta na organização hierárquica do SNC abaixo do córtex, 5. a persistência dos distúrbios práxicos construtivos e visuoespaciais no período tardio pós-AVC e suas implicações na vida diária dos pacientes sugerem mecanismos de desconexão córtico-subcortical na gênese dos distúrbios, 6. a constatação de queixas de inabilidade construtiva ou visuoespacial com limitação da função do trabalho sugere que a apraxia construtiva e a negligência visuoespacial podem ser duradouras e produzir incapacidade de grau variável nos pacientes. A presente casuística de apraxia construtiva por lesão subcorticai, direita e esquerda, constitui-se em forte argumento a favor da autonomia desses distúrbios neuropsicológicos, bem como da presença de mecanismos de retrocontrole exercidos pelas estruturas tálamo-lentículo-capsulares sobre a atividade cortical e responsáveis pela modulação de comportamentos complexos

ASSUNTO(S)

neuropsicologia acidentes vasculares cerebrais

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