Agricultura familiar no leste do Departamento de São Pedro, Paraguai : origem, evolução, situação atual e perspectivas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O Paraguai é um dos países latino-americanos onde a agricultura desempenha uma importante função social. Ao longo da história do país, os agricultores oriundos das populações indígenas e mestiças, denominados campesinos, sofreram a exclusão social em decorrência de um acesso limitado à terra e ao capital. Este processo teve como conseqüência a incapacidade de capitalização em meios de produção, acarretando o estado atual de estagnação social e produtiva. Cabe mencionar que durante o primeiro qüinqüênio do século XXI, constata-se a expansão considerável da área cultivada com soja na bacia do rio Paraguai, ocasionando uma série de problemas sociais e ambientais. Concomitantemente, uma grande parte dos agricultores familiares apresenta uma situação de crise social e produtiva. Frente a essa realidade, o presente trabalho tem como objetivo caracterizar e analisar as origens, a evolução e a situação socioeconômica atual da agricultura familiar de três distritos do leste do II Departamento de San Pedro, locais onde ocorrem, em maior grau, a expansão da sojicultura. A sociedade local atribui à expansão da sojicultura na região como a principal causa da problemática agrária atual das famílias camponesas. Dessa forma, pretende-se relacionar a expansão da soja, as políticas públicas e os problemas que enfrentam as famílias camponesas na atual conjuntura agrária. Para atingir esses objetivos, utilizou-se o enfoque teórico dos Sistemas Agrários, cuja metodologia fundamenta-se na análise de dados secundários, na leitura da paisagem, no resgate da história e na realização de entrevistas através da amostragem dirigida. Os resultados demonstraram que a área cultivada de soja tem aumentado consideravelmente, valendo-se da problemática fundiária ainda não resolvida nessa parte do Paraguai. Igualmente, a pesquisa tem revelado a existência na área de estudo de famílias que realizam uma agricultura de policultivos com ferramentas manuais; famílias que utilizam arado tipo charrua e tração animal, e mesmo, agricultores que implementam sistemas produtivos mais intensivos, com mecanização terceirizada, elevada utilização de insumos químicos e importante relação mercantil. O desempenho agro-econômico do ano agrícola 2005-2006 dos sistemas de produção implementados pelos agricultores familiares tem revelado que a maioria das famílias não conseguiu atingir o Nível de Reprodução Social simples, mostrando uma incapacidade de remunerar efetivamente a mão-de-obra familiar e reproduzir o instrumental de produção. Igualmente, verificou-se que a estrutura e funcionalidade das instituições do Estado, encarregadas da questão agrária, não estariam favorecendo a agricultura familiar. As organizações camponesas mostram-se contrários à expansão da soja, denunciam a ineficiência das instituições públicas e a falta de espaços de discussão com os agentes do Estado na busca do desenvolvimento rural. Conclui-se que o cultivo da soja não constitui um problema para a agricultura familiar. As verdadeiras causas da crise que enfrenta as famílias camponesas residem na pouca disponibilidade de terra, baixo instrumental produtivo, pouca inserção mercantil aliadas à carência de apoio efetivo por parte do Estado. Portanto, o poder público deveria implementar ações que favoreçam a agricultura camponesa, tentando que a mesma possa contribuir na segurança alimentar, que possa gerar renda e seja importante na ocupação da mão-de-obra existente no meio rural.

ASSUNTO(S)

agricultura familiar agricultura campesina paraguai sistemas de produção paraguay políticas públicas san pedro agricultura : história desenvolvimento rural

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