Ações de saúde mental por agentes comunitários de saúde: investigando uma experiência de saúde mental na atenção básica

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo a investigação de uma experiência de cuidados em Saúde Mental na Atenção Básica protagonizada por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) lotados em uma unidade básica de saúde do município de Betim, Minas Gerais. A inclusão das práticas em Saúde Mental na Saúde da Família, faz parte das políticas públicas do Brasil. Integram as equipes de Saúde da Família os Agentes Comunitários de Saúde, agentes sanitários obrigatoriamente residentes nas comunidades onde irão atuar, cujas ações foram instituídas pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Não existem diretrizes políticas nacionais para a realização de cuidados em Saúde Mental especificamente por estes profissionais. Para a pesquisa dessa experiência foi utilizada a metodologia qualitativa. Dados primários foram obtidos através de seis entrevistas semiestruturadas realizadas com os Agentes Comunitários de Saúde em questão, através de duas entrevistas semi-estruturadas realizadas com técnicos de nível superior que também participaram da experiência dando suporte às ações dos ACS e através de três visitas para observação participante em uma oficina terapêutica por eles coordenada. A Análise Temática de Conteúdo norteou a análise dos dados obtidos. Os referenciais teóricos utilizados neste processo são as prescrições para a organização da Atenção Primária à Saúde expressas pela Declaração de Alma Ata e os princípios e experiências de desistitucionalização oriundas da tradição basagiana. O material coletado foi distribuído entre três grandes temas: Acontecimentos Originários Locais, Cuidados em Saúde Mental por Agentes Comunitários de Saúde e Sentidos de uma Prática. Concluiu-se que a experiência foi gestada durante encontros realizados pelo psicólogo da unidade objetivando a redução de conflitos na equipe dos ACS. Estes profissionais passaram a formular nos encontros perguntas sobre os casos de sofrimento mental de seus territórios de atuação e a questionar a dificuldade de acesso destes casos ao tratamento ambulatorial então realizado na unidade de saúde. Como conseqüência imediata, foi instituído um dispositivo denominado Recepção, para acolhimento dos casos demandantes. As reuniões da Recepção ocorriam sempre com a presença de ACS. Esta iniciativa teria permitido a estes o exercício da escuta. As ações dos ACS em Saúde Mental se basearam em conhecimentos adquiridos em um processo educacional através de reuniões de equipe semanais onde os casos eram discutidos por ACS e técnicos de nível superior. Além das ações de identificação de casos novos, acompanhamento dos casos em tratamento para observação sistemática de seu estado e encaminhamento desses para técnicos de nível superior, sempre planejadas e discutidas nas reuniões de equipe, concluiu-se que os ACS executavam também acompanhamentos de casos a eles referenciados utilizando o dispositivo escuta e a dimensão afetiva na relação terapêutica. A ampliação dos horizontes, o desenvolvimento da capacidade de aceitar as diferenças e da capacidade de escutar o outro, a percepção da importância de seu papel na melhora dos usuários e a vinculação afetiva com os mesmos compõem parte importante do universo de sentidos que os ACS atribuem às suas práticas em Saúde Mental.

ASSUNTO(S)

psicologia social teses. psicologia teses. saúde mental teses.

Documentos Relacionados