A representação da mulher na cidade do Rio Grande em dois marcos temporais : um olhar semiótico sobre um jeito de fazer história

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Neste trabalho, colocando no cerne a representação da mulher, empreendo investigações, no discurso jornalístico impresso e no relato oral próprio. Preponderantemente, por meio de uma leitura semiótica de concepção greimasiana, verifico a forma como é mostrada e se mostra a mulher, na cidade do Rio Grande – RS, em um corpus formado por três coletâneas de textos. A primeira e a segunda coletânea compõem-se de notícias do jornal Diario do Rio Grande, centradas no referente “mulher”, veiculadas no ano de 1900. A terceira coletânea constitui-se de textos obtidos do relato oral de quatro mulheres de mais de oitenta anos, acerca de suas vidas. Aparentemente heterogêneos, os objetos de análise têm na sua unidade a representação dos papéis femininos. A análise observa como textos jornalísticos de um periódico, representante da dita "imprensa séria", que circulava na cidade do Rio Grande, naquela época, trata da mulher, dirige-se à mulher ou dá espaço para sua voz; como depoimentos memorialísticos orais obtidos de fontes vivas – relatos de mulheres de 81, 84, 86 e 91 anos – representam o feminino, compreendidas as ocorrências narradas em nível de concomitância, por tratarem-se de mulheres que viveram um espaço-tempo comum, articulando suas histórias pessoais com a História Oficial. Averiguo, semioticamente, comparando dados, em que medida a condição de ser mulher, no espaço sócio-físico-temporal da Rio Grande de 1900, mostrada pelo jornal, assemelha-se ou diferencia-se da relatada por mulheres rio-grandinas, nascidas em torno dos anos de 1920, que se formaram como pessoas, convivendo e absorvendo influências de mulheres que viveram no mesmo espaço que elas, porém, no limiar do século XX. Observo como esses textos constroem-se para relatar acontecimentos do mundoreferência, de modo a torná-los aceitáveis enquanto registro do "real"; como exercem persuasão; como, especificamente, o texto jornalístico busca sedimentar crenças, incutir valores e determinar atitudes, sustentando tudo no e pelo discurso. Partindo da hipótese de que o texto jornalístico da imprensa considerada “séria” – a que se definia como honesta, ética, isenta, em oposição a outra, a imprensa chamada "sensacionalista", vista como aberta, impactante, voraz – é a fonte jornalística de maior credibilidade utilizada pela pesquisa histórica que se realiza na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), da cidade do Rio Grande – RS, para reconstruir a História da cidade, investigo, se há, forjados na imprensa "séria" da cidade, no marco temporal de 1900, indícios de comportamentos transgressores. Da mesma forma, pela análise dos textos orais, verifico se, passado o tempo, falando de si mesmas, mulheres que foram jovens na década de 1940, possibilitam deixarem-se ver, em algum momento, como agentes de ações infratoras. Pela análise dos textos jornalísticos comparada à análise dos relatos orais, verifico a confirmação ou não de meu pressuposto de que as formas normatizadoras da uma conduta feminina de dedicada mãe, esposa, filha, sustentada na moral e na virtude – perfil de mulher que a História da cidade reproduz – resultam de uma pesquisa que se pretende neutra, por originar-se de fonte entendida como isenta, não tendenciosa; de que os textos jornalísticos da imprensa “séria”, procurando dissimular um discurso revelador, deixam brechas que possibilitem detectar uma imagem de mulher menos idealizada. Com a intenção de mostrar que o conhecimento da Semiótica Greimasiana pode possibilitar uma mudança de visão na pesquisa histórica da FURG, especialmente no que se refere à reconstrução da imagem da mulher da cidade do Rio Grande, ao discorrer sobre a representação feminina, nos textos da imprensa e nos textos orais que integram o corpus destetrabalho, faço reflexões sobre noções da Semiótica e da História, no que se refere ao mito da "verdade" e suas implicações com as idéias de “fato” e de “realidade” e ao mito da "totalidade". Afora examinar a representação da mulher na cidade do Rio Grande, divulgar histórias de mulheres dessa cidade, bem como ampliar os alcances do conhecimento da Semiótica Greimasiana no espaço acadêmico, foi também meu intuito direcionar um novo olhar para a narrativa jornalística e para a narrativa oral produzida por fontes-vivas, suscitando questões que abram espaço para a aproximação entre Semiótica e História, no âmbito da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, com vistas à implementação de futuras pesquisas que venham a consumar o caráter interdisciplinar desta proposta.

ASSUNTO(S)

sémiotique greimasienne. rio grande (rs) análise do discurso jornalístico histoire análise do discurso oral semiótica femme semiótica e imprensa véridicité identidade feminina journal textes journalistiques mulher pesquisa histórica textes oraux

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