A linguagem na doença de Alzheimer : considerações sobre o modelo de funcionamento linguistico-cognitivo

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

Nesta dissertação investigamos (1) a natureza do comprometimento semântico presente na Doença de Alzheimer (DA) e (2) uma possível relação existente entre as múltiplas alterações cognitivas na DA especialmente, entre linguagem e percepção visual. Partimos de um referencial teórico baseado nos postulados de Vygotsky que consideram que a linguagem tem um papel organizador sobre os diferentes processos cognitivos. Isto significa que este comprometimento semântico presente na DA pode repercutir no funcionamento da percepção visual. Estes postulados construtivistas de Vygotsky foram articulados com uma abordagem enunciativo-discursiva da linguagem que privilegia os processos de construção da significação em uma situação efetiva de interlocução. Nesse sentido, não há neutralidade do investigador/interlocutor - ele não apenas observa os caminhos pelos quais os sujeitos procuram resolver seus problemas, mas indica outros, fornece pistas que possam auxiliá-Ios - constrói conjuntamente a significação. Privilegiamos a tarefa de interpretação de fotos complexas em uma situação dialógica, por problematizar a relação entre linguagem e percepção visual em uma interlocução efetiva. A metodologia adotada neste estudo piloto foi o estudo de diversos casos (sujeitos com diagnóstico de DA, afásicos fluentes e sujeitos normais) através de uma análise qualitativa dos dados. Os resultados deste estudo forneceram indícios de que os indivíduos com DA têm dificuldade na interpretação de figuras complexas, pois não realizam as inferências necessárias, mesmo com as pistas dadas pelo investigador/interlocutor. Isto pode significar que a interação entre os processos cognitivos encontra-se comprometida o que impossibilitou a realização da tarefa proposta. Além disso, há uma atenuação do papel do interlocutor que por mais que forneça pistas para direcionar a construção do sentido, o fio condutor deste processo, é constantemente perdido na interação com estes sujeitos. Já os sujeitos afásicos e normais, apesar das alterações na linguagem (como no caso dos afásicos) e na percepção visual (como no caso dos afásicos e dos normais), interpretaram adequadamente as figuras, realizando as inferências necessárias a partir das pistas dadas pelo investigador. Isto pode indicar que a construção do sentido que ocorreu com o auxílio do investigador, organizou o campo vísuo-perceptivo. Estes resultados sugerem que (1) a per~epção visual se realiza com a participação da linguagem como postulou Vygotsky; (2) na DA, pode estar comprometida a função organizadora que a linguagem exerce sobre a percepção visual

ASSUNTO(S)

disturbios da linguagem neuropsicologia neurolinguistica afasia

Documentos Relacionados