A interação tutor-alunos em EAD: protagonistas de ações de leitura e escrita

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Sob os alicerces da Linguística Aplicada, que vem focalizando as atividades linguageiras a partir de diferentes enfoques teóricos, este trabalho resulta de uma pesquisa sobre as ações de linguagem nas interações realizadas por alunos e tutores de um curso de Especialização em Ensino a Distância, a partir da plataforma Moodle, e os reflexos dessas ações no desenvolvimento e aprimoramento da linguagem verbal desses sujeitos. O tema foi abordado à luz do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006a, 2006b, 2008; DOLZ, PASQUIER E BRONCKART, 1993; DOLZ e SCHNEUWLY, 1998; MACHADO, 2005; MATENCIO, 2007; PEREIRA, 2006, 2007, 2009a, 2009b, 2010), que tem como principais referências teóricas, no campo do desenvolvimento, Vigostsky (1998, 1987) e, no campo da linguagem, Bakhtin (2003, 1986), pensadores cujas perspectivas de estudo se originam e radicalizam-se na concepção de que toda a arquitetura do pensamento se sustenta na relação com a alteridade, através da interação social, mediada pela linguagem. Para atender ao caráter descritivo e exploratório da pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa, o que demandou, além de uma revisão vertical da literatura, a observação dos alunos nas interações com os tutores/professores e seus iguais, por meio das mensagens escritas que faziam circular nas interfaces do ambiente virtual de aprendizagem. As situações observadas ofereceram subsídios para a análise das questões levantadas a respeito de como leem e escrevem esses sujeitos, como organizam suas ideias e como constroem conhecimentos. Dessa análise, alguns resultados podem ser assinalados. As interações linguageiras tutor-alunos constituíram contribuições significativas para as atividades de leitura e escrita por estes sujeitos, e se isso tivesse se dado de forma mais consciente, estando claro o papel que as atividades de linguagem exercem na construção do pensamento consciente, as contribuições seriam ainda mais expressivas. As atividades de leitura e escrita, que sempre estiveram juntas no curso, centralizavam-se no conteúdo temático, refletindo uma concepção de leitura como atividade de decodificação, em detrimento de uma concepção discursiva, que considera não só as habilidades e competências relacionadas ao conteúdo, mas também a materialidade linguística dos textos e a sua situação de enunciação. Partindo de uma noção mais ampla de leitura e escrita, consideradas como práticas sociais, e observando as interações linguageiras dos sujeitos desta pesquisa, sobretudo os tutores com suas orientações e intervenções nas atividades escritas dos alunos, constatamos algumas lacunas. Nem todos os parâmetros de ordem social e individual, sejam os externos, ligados às condições de produção dos textos, sejam os internos, referentes ao processamento cognitivo ativado no momento da produção escrita, foram contemplados. No tocante ao processamento de ideias, tanto as atividades propostas pelos tutores/professores quanto as interações dos alunos nos fóruns e suas produções textuais mostraram que ações de busca, criação, avaliação, decisão e seleção de ideias foram razoavelmente contempladas. O que não se fez presente de forma mais expressiva, sobretudo da parte dostutores, foram ações da ordem do hierarquizar, ordenar, concatenar e articular, que garantem os mecanismos de textualização e contribuem para a coerência temática do texto, orientações essas fundamentais quando solicitamos atividades escritas aos alunos, pois, independentemente do nível deles e da modalidade de ensino presencial ou a distância em que se encontram, as dificuldades são as mesmas. Outra medida apontada pelos resultados deste estudo, esta de caráter mais abrangente, é o investimento maciço e sistemático na formação inicial e continuada de professores de português, sobretudo, mas também de outras disciplinas, afinal de contas o trabalho com leitura e escrita perpassa os domínios da História, Geografia, Filosofia etc. A formação de professores, portanto, deve partir da compreensão da complexidade das práticas de linguagem escrita, compreensão essa que impõe uma pedagogia do letramento, inclusive digital, que venha se sobrepor a pedagogia da temática ou a um ensino de gêneros que não contemple seus aspectos sociocomunicativos e pragmáticos. Nesse sentido, este estudo deixa sua contribuição para a possível efetivação de uma interface entre a Linguística Aplicada, que vem focalizando as atividades linguageiras a partir de diferentes enfoques teóricos, e os cursos de EaD, tanto os de graduação como os de pósgraduação, com seus organizadores, webdesigns, tutores, professores conteudistas e alunos. É nossa intenção também, com a realização desta pesquisa, contribuir para a ampliação do Interacionismo Sociodiscursivo no Brasil, corrente teórica interdisciplinar cujas perspectivas de estudo se originam e radicalizam na concepção de que toda a arquitetura do pensamento se sustenta na relação com a alteridade, através da interação social, mediada pela linguagem. A pesquisa aponta, portanto, para a necessidade de uma assessoria/consultoria de um profissional da área de Linguística Aplicada na concepção, estruturação e desenvolvimento de cursos de EaD, para que, na ponta desses cursos, o ambiente virtual de aprendizagem, em que se dão efetivamente as interações tutor-alunos / alunos-alunos, a leitura e a escrita se constituam no meio e no fim da construção do conhecimento e do desenvolvimento e aprimoramento da linguagem verbal.

ASSUNTO(S)

ensino a distância atividades de linguagem leitura e escrita interação dialogismo letras learning virtual environment language activities reading and writing interaction dialogism

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