A imagem esfacelada do professor: um estudo em textos de revistas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Nesta pesquisa investigamos as (re-)configurações construídas em textos sobre o trabalho do professor produzidos por cronistas e jornalistas das revistas Veja São Paulo e Nova Escola. Para isso, levantamos as características do agir do professor, em situação de trabalho, construídas em alguns dos textos dessas revistas, que circulam em diferentes esferas e que são destinadas a diferentes leitores. Nesse levantamento, identificamos formas linguísticodiscursivas que permitiram detectar essas re-configurações. A escolha desses dois suportes midiáticos justifica-se por termos, de um lado, a Revista Veja São Paulo, voltada para o público em geral e veiculada na maior cidade brasileira e, por outro, a Revista Nova Escola, destinada exclusivamente para o educador e veiculada em todo o país. Assim, pudemos verificar se há semelhanças e / ou diferenças entre as re-configurações sobre o agir do professor construídas nessas revistas, de acordo com o seu contexto de produção. A decisão de nos atermos ao gênero crônica justifica-se pelo fato de ele ter como característica o tratamento de temas do cotidiano, de modo mais literário e subjetivo do que outros gêneros, além de níveis de textualidade. O recorte do período escolhido, entre 2000 e 2006, justifica-se por este ser um período que nos aponta para uma mudança de paradigma do docente, sobretudo, porque nesse início do século XXI ecoavam as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que tendo sido lançados na última década do século XX, orientaram uma profunda mudança na história da educação brasileira. De modo geral, os procedimentos utilizados na pesquisa provêm, sobretudo, do interacionismo sociodiscursivo e foram inspirados no que foi proposto pelo Groupe LAF (Bronckart, 2004) e pelo grupo ALTER (Machado, 2004 e 2005), além de conceitos de outros autores compatíveis com nosso quadro teórico para a interpretação dos textos, como de Amigues (2002), Saujat (2002), Faïta (2002) e Clot (2004b). Dentre esses procedimentos, tomamos como referência para a análise dos dados, o contexto sócio-interacional de produção; o nível organizacional, mais especificamente o plano global e os tipos de discursos; o nível enunciativo, centrando nas vozes e modalizações; e, finalmente, o nível semântico, utilizando como categorias de análise os elementos constitutivos do agir de acordo com o modelo proposto por Bronckart (1997 e ss.) e reformulado por Machado e Bronckart (2009/no prelo). Os resultados da análise dos textos da Revista Nova Escola foram divididos em duas partes: as crônicas e os roteiros. As crônicas revelaram um saudosismo em relação ao docente do passado, valorizado pela sua paciência, compreensão, bondade e meiguice e, porque eram assim, conseguiam agir. Já os roteiros de reflexão para professores evidenciaram um locutor que se dirige ao professor, com verbos no imperativo, como se ele não soubesse agir, ditando receitas sobre como discutir a carreira e ensinar, sem camuflar o caráter prescritivo, e tomando como modelo o professor do passado, sem levar em conta as condições sócio-históricas. Quanto aos resultados de análise dos textos da Revista Veja São Paulo, encontramos um contraponto e um confronto entre os professores do passado e os professores da atualidade: de acordo com essas (re-)configurações, os primeiros exigiam e agiam, enquanto os segundos se apresentam como impotentes para o agir, devido à mudança das relações e papéis entre professor, aluno, pais e direção de escola. Notamos então que as crônicas da Revista Nova Escola (re- )configuram o professor como era em um passado longínquo, em que as condições sociais de trabalho eram completamente diferentes, mas mesmo assim, a revista coloca esse professor como sendo o professor ideal para os dias de hoje, o que vemos nos roteiros. Já as crônicas da Revista Veja São Paulo mostram como são os professores da atualidade, com seus múltiplos problemas reais, que fazem oscilar o seu papel tradicional

ASSUNTO(S)

chronicle linguistica aplicada pratica de ensino acting understanding veja sao paulo (revista) teacher work trabalho docente crônica interpretação do agir professores nova escola (revista)

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