A gramatica das cores em Wittgenstein

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1999

RESUMO

Nosso objeto é a gramática das cores na obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Dirigimo-nos, portanto, às relações internas entre cores e não às relações externas entre pigmentos, raios luminosos, processos retinianos, que interessariam precipuamente a físicos, fisiólogos ou psicólogos. Desse modo, enquanto estudo sobre uma investigação filosófico-gramatical, nossa atenção se volta para o uso normativo de palavras descritivas da experiência cromática, perfazendo tal uso uma tarefa característica de uma fenomenologia, na medida em que seu alvo são as condições de sentido e não a verdade da percepção. O modo original de Wittgenstein de tratar a identidade da cor logra definir-se apenas em um percurso extenso, cujos pólos são, por um lado, a tentativa de resolver, de 1929 a 1932, um impasse contido no Tractatus (explicitamente, no aforismo 6.3751) e, por outro, a sofisticada composição final das Bemerkungen über die Farben, em 1950. Para enfrentar a tarefa de análise desses momentos, foi necessário o acesso a fontes bem mais extensas que as editadas e mesmo o restabelecimento de parte do corpus wittgensteiniano, mas isso comportou a vantagem de permitirnos acompanhar o andamento da obra, o movimento de suas teses, recusando, na evidente e abundante reiteração, a rubrica fácil da latênda, uma vez que a solução de certas questões (como a de um possível tratamento uniforme da incompatibilidade ampla e da restrita) resulta sobretudo de uma inflexão autoterapêutica da obra, com a introdução concorrente de novos recursos e conceitos, e não de um desdobramento. Recusamos porém o discurso da latência e a continuidade não se toma por isso menos eloqüente, de modo que talvez nossa aventura com as cores possa ser assim sintetizada. Em resumo, mostramos por que Wittgenstein acreditou enfim necessário explorar o espaço das cores e como ele o fez extensa mas distintamente sobretudo nesses dois momentos: quando do período inicial de seu retomo a Cambridge e em seus últimos anos de vida. Mas o percurso mesmo e, sobretudo, o detalhe desses seus momentos contrapostos são o fundamental. Assim, a tese evidencia seu modo enfim não fenomenológico de tratar de problemas fenomenológicos, de descrever relações internas dispostas à visão, e o sentido dessa sua negação de uma fenomenologia, cifrada no enunciado do paradoxo de Goethe. O tema das cores coincide com a trama mais profunda da obra, tendo inclusive servido à maturação ou introdução de conceitos que lhe são essenciais. E, sem dúvida, os resultados específicos dessa investigação gramatical podem iluminar questões centrais da filosofia de Wittgenstein, como a natureza das relações internas e da necessidade, a autonomia da gramática e a relação entre jogos de linguagem e formas de vida. Assim, mais que uma alegoria, a cor é exemplo (e privilegiado) do movimento da obra inteira

ASSUNTO(S)

campos visuais cores necessidade (filosofia) fenomenologia

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