A constituição da identidade em crianças vítimas de abuso sexual

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A identidade do sujeito é constituída na relação com o outro, a qual se caracteriza pela dialeticidade e se configura como um movimento de identificação e/ou reconhecimento, e estranheza e/ou afastamento. Nas interações sociais, as pessoas com as quais o sujeito se relaciona atribuem significados a ele e, a partir desses, o sujeito irá ressignificá-los, produzindo sentidos de si mesmo. Ou seja, é por meio dessas que os sujeitos se organizam, percebem o que lhes é próprio, e adquirem o senso de si mesmo. Destaca-se, também, a importância do contexto sócio-histórico no processo de constituir-se, pois, a partir deste, o sujeito produz formas particulares de percepção da realidade carregadas de significação cultural. Portanto, a concepção de si, a forma de pensar, de ser, de se relacionar, de se posicionar diante das vivências, oriundas da internalização dos valores, normas e afins, é perpassada pela maneira com que os outros se relacionam com o sujeito. Entretanto, quando a relação com o outro se dá de forma violenta, como no abuso sexual de crianças, há implicações na constituição do sujeito, pois viola sua integridade física e psicológica, assim como o direito à dignidade, ao respeito e ao próprio desenvolvimento físico, psicológico e sexual salutar. Assim, este trabalho tem por objetivo investigar como se constitui o processo de identidade de crianças vítimas de abuso sexual. Como objetivos específicos a pesquisa se propõe a: 1) caracterizar as relações entre criança e abusador, anterior e posterior ao abuso; 2) identificar imagens que os sujeitos, vítimas de abuso, têm de si e 3) identificar as características da relação do sujeito com o próprio corpo. Para tanto, foram realizados procedimentos envolvendo desenho, pintura, colagem, fotografias, atividades com cartolina, canetas coloridas, cola e retalhos de tecido. A pesquisa foi realizada no Centro de Referência Especializado em Assistência Social, onde há o atendimento a crianças que sofreram violação dos seus direitos, dentre os quais se inclui o abuso sexual. Os sujeitos da pesquisa foram três crianças, do sexo feminino, com idade entre 6 e 10 anos, vítimas de abuso sexual. A análise do corpus foi realizada por meio de Análise de Conteúdo Temática, estruturando-se em três núcleos de sentido: 1) referência a si mesmo sem o comparecimento explícito do discurso do outro; 2) referência a si com o comparecimento explícito do discurso do outro e 3) O outro abusador. As análises indicam que as crianças, sujeitos da pesquisa, possuem uma imagem de si, de seu corpo, deteriorada, informação condizente com os estudos na área de violência sexual em crianças e adolescentes. Por outro lado, foram identificadas, também, referências a si com conotação positiva nos casos em que aludiam ao seu jeito de ser, o que se configura como importante para o desenvolvimento dos sujeitos. Acerca do discurso do outro em relação aos sujeitos, foram identificadas observações positivas e constatou-se que tais considerações podem contribuir para que o sujeito reorganize a imagem que tem de si. A contribuição dos comentários negativos, por sua vez, apresentou-se de forma mais clara e incisiva na constituição do sujeito. Ainda, há uma supervalorização do discurso do outro, de forma que os significados atribuídos a elas, pelo outro, são internalizados, ofuscando a valoração de si. Por fim, ressalta-se a necessidade do acompanhamento psicológico de crianças vítimas de abuso sexual, pela possibilidade de elaboração da vivência desse trauma, na tentativa de superação, bem como se espera que o produto desta pesquisa contribua para a prática dos profissionais que atuam junto aos sujeitos que têm seus direitos violados

ASSUNTO(S)

identidade constituição do sujeito infância violência, abuso sexual psicologia identity subject constitution childhood violence sexual abuse

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