A apropriação de uma tradição: Um estudo sobre o Festival de Música Folclórica de Santa Rosa do Tocantis/TO

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Herança colonial portuguesa, as festas religiosas com as folias dos santos da Igreja Católica marcam o tempo e o cotidiano das famílias camponesas no Tocantins, especificamente no sudeste e no centro do Estado. Nessas regiões assim como para plantar e para colher, há o tempo para festar reunir os foliões, girar com as folias, levantar o mastro no dia consagrado ao santo. As folias do Divino são reconhecidas como as mais tradicionais. A devoção é repassada de geração a geração. A festa é da comunidade, todos compartilham da sua realização. A roda, a catira, a sússia compõe o universo da folia sagrado e profano, heterogêneo e sem fronteiras delimitadas. Realizadas no interior dessas comunidades diz respeito à sua religiosidade, à coletividade, à reciprocidade e solidariedade dos indivíduos. É uma manifestação da sua cultura. Fora desse contexto essa manifestação perde sua originalidade e ganha novos significados; perde o seu caráter ordinário e é apresentada como um espetáculo. É nesse sentido que é abordado o Festival de Música Folclórica de Santa Rosa do Tocantins no Sudeste do Estado. A criação e realização do festival é uma ação concreta da ingerência do poder público municipal junto à tradição das folias de santos. O festival diz acerca da música e do ritmo desenvolvido pelos foliões. Composições das folias como a catira, a sússia e a roda são segmentadas e transformadas em categorias julgadas e premiadas no palco da cidade como a melhor catira, melhor roda, melhor vena e etc,. O folião é jogado numa dimensão destituído de sacralidade onde a reciprocidade cede lugar à competição. O festival dá ênfase à plasticidade e à estética em detrimento do significado cultural. Transforma os rituais das folias em apresentações efêmeras que não se constituem como parte efetiva da vida dos foliões. É um novo elemento inserido na dinâmica da cultura provocando mudanças nos valores construídos e atribuídos aos bens culturais. Através da apropriação desses bens pelo poder público inventa-se uma nova manifestação onde ele detém o controle da sua realização. Essa apropriação implica também na construção de um processo de identificação do município de Santa Rosa dentro da região. Para tanto o poder público tomou para si a tutoria da preservação cultural. Contudo a idéia de preservação através de agentes externos não se aplica às manifestações culturais, somente diz respeito aos grupos ou comunidades que as realizam. A continuidade ou não da manifestação deve-se a uma negociação no interior de cada comunidade. Ainda assim, a discussão sobre a ingerência do poder público junto às manifestações culturais é pertinente, pois pode contribuir de alguma forma para se repensar a elaboração e aplicação de políticas culturais.

ASSUNTO(S)

patrimônio cultural antropologia música popular música folclórica antropologia santa rosa (to)

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