O luto dos familiares de desaparecidos na Ditadura Militar e os movimentos de testemunho

AUTOR(ES)
FONTE

Psicol. USP

DATA DE PUBLICAÇÃO

14/11/2019

RESUMO

Resumo Este artigo pretende compreender a forma como o processo de luto ocorreu entre os familiares de desaparecidos-mortos políticos durante a Ditadura Militar de 1964, que, valendo-se da Doutrina de Segurança Nacional, fez desaparecer militantes, ocasionando um hiato traumático no cerne das famílias, que precisaram lidar com o vazio próprio do desaparecido/desaparecimento. Sabendo que, para a elaboração do luto, se requer uma objetivação da morte - a identificação do corpo morto e os ritos de passagem da vida para a morte -, supomos haver dificuldade nessa possibilidade de elaboração do luto. Identificados com o trabalho freudiano Luto e melancolia, percorremos os dois caminhos por ele apresentados, sem intenção de abranger toda a complexidade humana no que tange às formas de sofrimento no luto, a saber: o luto e sua possibilidade de reinvestimento de libido; e os caminhos da melancolia, que paralisa o sujeito e impede que este faça novos investimentos pulsionais. Caminhando nos passos do pai da psicanálise, verificamos nos familiares de desaparecidos políticos que a melancolia paralisa o sujeito em um estado mortificante, enquanto no luto é possível algum movimento.Abstract Through a bibliographical research, this article aims to understand how the mourning process occurred among relatives of persons who either disappeared or were killed for political reasons during the 1964 Military Dictatorship, which, using the National Security Doctrine, made these militants disappear, causing a traumatic hiatus in the heart of the family, which had to cope with the emptiness left by the disappeared person/disappearance. Knowing that processing the mourning requires objectification of death - identification of the dead body and rites of passage from life to death -, we suppose there is difficulty in this possibility of processing the mourning. Identified with Freud’s work Mourning and Melancholia, we follow the two paths he presented, with no intention of covering all human complexity regarding the forms of suffering in mourning, namely: mourning and its possibility of reinvestment of libido; and the paths of melancholy, which paralyzes the subject and prevents him from making new drive-related investments. Following in the footsteps of the father of Psychoanalysis, we observed in relatives of persons disappeared for political reasons that melancholy paralyzes the subject in a mortifying state, while in mourning some movement is possible.

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